Correlação clínica (escore de Apgar), ácido-básica e enzimática (ATPase Na+-K+) ao nascimento : determinação do ácido láctico, ATP e eletrólitos intra e extraeritrocitários no sangue do cordão umbilical
Resumo
Resumo: O escore de Apgar foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a necessidade ou não de ressuscitação. Seu uso indiscriminado levou ao diagnóstico de asfixia, enquanto este diagnóstico requer evidência de hipercapnia, hipóxia e acidose. O escore de Apgar isoladamente é insuficiente para o diagnóstico de asfixia pois pode ser influenciado por fatores como prematuridade, baixo peso ao nascimento, uso de anestésicos, manuseio obstétrico e pediátrico, além da liberação de catecolaminas pelo próprio sofrimento fetal aumentando a pontuação no escore. Bioquimicamente, situações diversas podem acontecer. Na acidose maternogênica ou transfusional, a produção de ácido láctico é realizada pela mãe, especialmente no segundo estágio do trabalho de parto pelas musculaturas esquelética e uterina. Na acidose de origem fetal, a produção de ácido láctico se inicia com a diminuição da oferta de oxigênio e metabolismo anaeróbio gerado pelo feto. Existe ainda a ocorrência de acidose fisiológica no feto durante o processo do parto, caracterizado por interrupções frequentes no fluxo placentário durante as contrações uterinas. Com o objetivo de avaliar a condição de nascimento foi realizado a correlação entre o estudo acido-básico materno-fétal, o escore de Apgar e o comportamento da ATPase Na+-K+ dependente, principal componente da Bomba de sódio, responsável por aproximadamente 70% do fluxo de cátions. Os exames foram realizados em 41 recém-nascidos á termo, no sangue do cordão umbilical, coletado imediatamente após o nascimento, após duplo clampeamento. A média de peso de nascimento da população de estudo foi de 3178 ± 486g e de idade gestacional, 30,91 ± 0,98 semanas. Trinta casos (73,17%) tiveram Apgar no Io minuto > 7 e 11 (26,83%) <= 7. De acordo com o pH da artéria umbilical os casos foram classificados em: sem acidose (pH >= 7,25) em 17 casos, pré-acidose (pH entre 7,20 e 7,24) em 8 e com acidose (pH < 7,20) em 16. Metade dos casos com Apgar no Io minuto > 7 apresentaram pré-acidose ou acidose. De acordo com a diferença de pH e BE materno-artéria umbilical, os casos de acidose foram subdivididos em: acidose fetal (diferença de BE > 6 e de pH > 0,15) em 10 casos (62,5%) e acidose maternogênica (diferença de BE < 6 e de pH < 0,15) em 6 casos (37,5%). Com acidose de origem fetal, 50% dos casos apresentaram Apgar no 1º miinuto <= 3 enquanto na acidose maternogênica o menor Apgar de 1º minuto foi igual a 7 em 33% dos casos. Todos os casos com Apgar de 5º minuto igual a 7 pertenciam ao grupo com acidose fetal. A ATPase, especificamente a ATPase Ouabaína-sensivel, é responsável pelo gradiente de Na+ e K+ intra e extracelular e, portanto, pela manutenção do volume celular normal. A liberação de catecolaminas, sob acidose e hipóxia, estimula a troca Na+-H+, trocando um Na+ externo por ura próton interno. O resultado é a captação simultânea de Na+ e Cl- com edema celular. A hipóxia determina ainda perda de K+ pela célula. Há então ativação da Bomba de sódio na tentativa de corrigir o desequilíbrio eletrolítico, extruindo íon Na+ e captando íon K+. Predominou em toda a amostra, independente da presença ou não de acidose ou hipóxia, Na+ intíaeritrocitário elevado (69,69%), Na+ extraeritrocitário diminuído (85,71%), K+ intraeritrocitário diminuído (63,63%) e K+ extraeritrocitário elevado (62,85%), compatível com inibição da ATPase Ouabaína-sensivel, que esteve diminuída em todos os casos. Entretanto, com acidose de origem fetal, a diminuição da ATPase Ouabaína-sensivel esteve entre 50-100% do limite inferior normal, enquanto na maternogênica esta diminuição não ultrapassou 50% do mesmo limite. Embora a inibição enzimática verificada em toda a amostra esteja provavelmente relacionada à inibição fisiológica determinada pela circulação de uma substância "like-ouabaina" produzida pela unidade feto-placentária, houve maior inibição da ATPase na acidose de origem fetal, reflexo do verdadeiro sofrimento fetal. No recém-nascido deprimido de qualquer idade gestacional, a avaliação acido-básica materno-fetal é indispensável para o diagnóstico da condição de nascimento e da causa da depressão neonatal. No recém-nascido à termo, vigoroso, também esta avaliação è necessária, já que em 50% dos casos houve pré-acidose ou acidose. Esta avaliação é fundamental para o diagnóstico real da condição de nascimento e para permitir possíveis avaliações neuropsicomotoras futuras relacionadas a acidem ia neonatal. A determinação da Bomba de sódio deve merecer maior atenção como marcador do edema celular na asifixia perinatal.
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