Queremos nos amar como irmãos : uma análise historiográfica das Cartas de Amarna e das relações entre Egito e Mitani entre c. 1390 - 1336 AEC
Abstract
Resumo: No Antigo Oriente Próximo, vimos nascer civilizações, línguas, culturas e manifestações que conectavam diferentes territórios. Da integração dos povos antigos desenvolveu-se a Idade do Bronze, por exemplo. As relações, porém, precisaram ser reguladas e moldadas para atender as necessidades que cada reino envolvido possuía. A normatização dos contatos, por sua vez, permitiu a troca de cartas por meio de um sistema diplomático, sobre o qual hoje temos as Cartas de Amarna como seu maior reflexo. Contudo, a prática e a teoria nem sempre andam juntas. Por isso, mais do que as leis, é preciso que os estudos levem em consideração as convenções e motivações intrínsecas ao sistema e aos envolvidos. Neste trabalho busco entender o caso entre Egito e Mitani, compreendendo os motivos que o rei mitânio, Tushratta, teria para manter uma aliança com os faraós egípcios, mesmo tendo tantas reclamações sobre eles. Para tanto, foi necessária uma análise interdisciplinar que nos auxiliasse a diferenciar os argumentos políticos, oficiais e retóricos que as correspondências nos apresentam. Com os estudos de variados campos, é possível perceber elementos como a reciprocidade e a economia de oferta, que juntas nos mostram uma visão de caráter individual dos reis. Enquanto oficialmente Grande Reis deveriam tratar-se por iguais, esses aspectos nos apresentam uma hierarquização sutil, ou, ao menos, uma tentativa se mostrar superioridade. Esta pesquisa, então, utiliza-se da linguagem e estilo de escrita usados por Tushratta para buscar respostas sobre suas intenções e anseios. Manter uma relação com o Egito era vantajoso em questões econômicas, primeiro por este ser fornecedor de ouro e, em segundo lugar, por ter domínio de grande parte do Levante e, consequentemente, suas rotas e materias. Tushratta possivelmente acreditava que manter uma aliança com o Egito traria benefícios econômicos e militares, o que auxiliaria nos confrontos com Hatti. Contudo, é preciso convencer os faraós de que tal amizade seria vantajosa também para eles e, por isso, a retórica é utilizada para enaltecer Mitani e as atitudes de Tushratta. Palavras-chave: Mitani; Antigo Egito; Diplomacia; Cartas de Amarna; Oriente Próximo. Abstract: The Ancient Near East saw the rise of civilizations, languages, cultures, and manifestations that connected different territories. Through the integration of ancient peoples, the Bronze Age was developed, for example. Relationships, however, needed to be regulated and shaped to answer the needs that each kingdom had. The normalization of contacts, on the other hand, allowed letter exchange to occur through a diplomatic system, and, currently, the Amarna Letters are its greatest reflection. Nevertheless, practice and theory do not always walk together. Because of that, beyond laws, it is needed to consider conventions and motivations intrinsic to the system and the ones involved. With this dissertation, I aim to understand the case between Egypt and Mitanni, by comprehending the reasons that the Mitannian king, Tushratta, could have to maintain an alliance with the Egyptian Pharaohs, even after many complaints about them. To help us differentiating political, juridical and rhetorical arguments within the correspondence, an interdisciplinary analysis was needed. With researches from various areas, it is possible to notice elements like reciprocity and gift economy, that together show us the individual character of the kings. While officially Great Kings should be treated as equals, these aspects present a subtle hierarchy or, at least, an attempt to shown superiority. This research, thus, uses Tushratta's writing style and language to investigate his intentions and yearnings. To maintain a relation with Egypt was advantageous in terms of economy, firstly because it was a provider of gold, and secondly, because it controlled many parts of the Levant and, hence, its routes and materials. Tushratta possibly believed that by keeping an alliance with Egypt, economic and military benefits would be guaranteed, and that would help with Mitannian battles against Hatti. However, they needed to persuade the Pharaohs that such friendship would be beneficial for them also, and, to do that, rhetoric would praise Mitanni and Tushratta's acts. Key-words: Mitanni; Ancient Egypt; Diplomacy; Amarna Letters; Near East.
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