A segurança alimentar e nutricional na produção da cidade : reflexões a partir do Bairro Capão da Imbuia (Curitiba-PR)

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Data
2005Autor
Ribas, Maria Teresa Gomes de Oliveira
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Resumo: A relação entre o processo de urbanização e a questão alimentar-nutricional no Bairro Capão da Imbuia (zona leste de Curitiba-PR), enfocada segundo o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e elaborada na perspectiva geográfica, está no centro da abordagem do presente trabalho. A questão alimentar se refere a aspectos do acesso aos alimentos em sua mediação pelos processos de produção e comercialização. A questão nutricional diz respeito às práticas alimentares declaradas por habitantes do bairro,
mediante grupos focais e entrevistas, como subsídios explicativos do desfecho nutricional orgânico. A perspectiva metodológica da pesquisa reflete aspectos do princípio dialético, envolvendo uma abordagem histórica do problema, com suporte complementar analítico uma vertente científica humanista. Considerou-se que a problemática alimentarnutricional no bairro tem sua origem e transformação mediante conexões com outros sistemas (sócio-culturais, políticos, econômicos), numa dinâmica processual permeada por conflitos e contradições, a partir das forças que historicamente os determinam nas relações sociais estabelecidas em diferentes escalas espaciais. Produziu-se uma análise combinada das perspectivas dos atores em seu espaço vivido com um arcabouço teórico sistematizador
do contexto social do cotidiano, onde se configuram as experiências alimentar e nutricional.
Processos (economias pecuária e da erva mate, imigração estrangeira) e agentes sociais (boiadeiros, ervateiros e colonos) da conjuntura regional e local foram mencionados como
conteúdos da biografia do lugar e nos fragmentos das histórias de vida, evidenciando a
intrínseca relação destes fenômenos com a configuração do cotidiano alimentar em diferentes temporalidades. A reconstrução deste cotidiano desde 1950-60 até o tempo atual
revelou esfacelamento do papel da alimentação no gasto do tempo e nos rituais do dia-adia, o desaparecimento da produção alimentar no entorno doméstico, com a submissão do
acesso aos alimentos à dependência das relações de mercado e às exigências da lógica
temporal do espaço urbano. Como processo ilustrativo do desfecho nutricional no espaço
vivido, analisou-se hipertensos (n=628) ativos em programa específico da unidade básica
de saúde local. A predominância da hipertensão ocorreu no gênero feminino, na faixa etária
entre 50 e 69 anos (média = 60,8 anos), com escolaridade inferior a 3 anos de estudo formal
e em situação de renda inferior a 2 salários mínimos. 33% apresentaram IMC superior a 30
kg/m2 . 60% ingressam no programa em estágio moderado de hipertensão, tendo sido
registrados casos já a partir da segunda década de vida. Houve diferença significativa
(p<0,05) entre as freqüências da hipertensão e da obesidade segundo posição dos sujeitos
na ocupação (35% dos hipertensos eram aposentados e 31% dos hipertensos obesos
estavam na categoria sem ocupação, na maioria mulheres donas de casa). Os valores
médios do IMC situaram-se em torno de 29 kg/m2 em todas as categorias de posição na
ocupação, atingindo valores máximos superiores a 50 kg/m2 nos empregados e sem ocupação. Ampliações de espaços de atenção em saúde e de lazer figuraram como principais conteúdos referentes ao ideal de espaço vivido dos sujeitos, tendo estreita relação com a qualidade de vida, em termos do impacto nutricional. Nas atividades cotidianas, estratégias de cultivo em espaços minúsculos e práticas que envolvem alimentos e ervas na gestão doméstica da doença como experiência vivencial, se revelam como necessidade permanente do resgate da integralidade na relação homem-natureza, no espaço urbano. Abstract: The relationship between the urbanization process and the Nutritional – Food issue in the Capão da Imbuia district (Curitiba’s East Side), focused on the perspective of the Food and Nutritional Security concept, and elaborated on the geographic perspective, is the chore
subject in this work. The Food topic refers to the aspects regarding access to foodstuffs through the processes of production and commercialization, whereas the Nutritional one
regards the eating practices of the district’s inhabitants according to focused groups and interviews, as explanatory subsidies for the organic nutritional impact. The research’s methodological perspective reflects aspects of the dialectic principle, involving a historical pproach of the problem, with additional analytic support in a humanistic scientific line. It aas been considered that the food and nutrition question in the said district has its roots and changes bound to connections with other systems (social, cultural, political and economicones), in a dynamic process permeated by conflicts and contradictions arising from the forces that have historically determined them in social relations established in different
spatial scales. A combined analysis of the subjects’ standpoint in their living space within a
theorethic scope systematizing the daily social context was produced, were the food and
nutritional experiences are configured. Processes (cattle and mate-herb driven economies,
foreign immigration), and social agents (cowhands, mate producers and colonizers) of
regional and local conjuncture were mentioned as contents of local biography and in the
fragments of life experiences highlighting the intrinsic relation of such phenomena and the
configuration of eating practices at different temporalities. The reconstruction of such dayto-day eating practices, from the 50s and 60s to our days, revealed a fragmentation of the role played by eating practices in terms of time expenditure and daily rituals, the
disappearing of domestic food production, with the submission of the access to foodstuffs
to a dependence on market relations and the logic temporal demands of urban spaces. To
illustrate the nutritional impact, we have analyzed hyper tense individuals (n=628) enrolled
in a specific program of the local health care unit. The predominance of hypertension
occurred among individuals between 50 and 69 years of age, (average = 60,8 years), mostly
women, with less than 3 years of formal schooling and with an income of less than two
minimum wages. 33% presented a Body Mass Index superior to 30 kg/m2. 60% joined the
program while in a moderate stage of hypertension, and in some cases the individuals were
still in their 20s. There was a significant difference (p<0,05) between the frequencies of obesity and hypertension according to the individuals’ occupational category (35% of
individuals with hypertension were retired and 31% of obese hyper tense subjects were
unemployed, and were mostly housewives). The mean BMI values range around 29 kg/m2
in all occupational categories, and reach up to 50 kg/m2 among employed subjects or
subjects without occupation. Larger and better equipped leisure and health care facilities in
their living areas figured as the subject’s ideal concept of a living space, which relates to
their quality of life in terms of nutritional impact. In daily activities, strategies for closedquarters cultivation and practices involving a domestic approach to utilizing foodstuffs and herbs with which to handle diseases as a living experience, revealed themselves as permanent necessities in order to reestablish the wholesomeness of the man-nature relationship in urban spaces.
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