Marcos da vida viável, marcas da vida vivível : o governamento da diversidade sexual e o desafio de uma ética/estética pós-identitária para a teorização político-educacional LGBT
Resumo
Resumo: O que pretendo, neste trabalho, é estudar a relação que vem se estabelecendo, na atualidade, entre a ideia de diversidade sexual (e seus desdobramentos no campo da política, dos movimentos sociais e da educação) e as políticas identitárias contemporâneas. A partir do que chamo de viabilidade-moral-econômica dos sujeitos LGBT, tento perceber como têm sido produzidos os arranjos biopolíticos, bem como as formas de governamento das diferenças sexuais, que inscrevem corpos e práticas na moral heteronormativa e na lógica essencializadora das identidades. Diante desse argumento, pretendo pensar como, na contemporaneidade, tem se formado a relação de parceria entre os movimentos sociais e o Estado e como tal relação tem gerado formas de governamento dos sujeitos da diversidade sexual, através de novos mecanismos de controle do corpo, das práticas sexuais e afetivo-amorosas e das condutas de lésbicas, gays, bissexuais e trans*. Em vista disso, o objetivo é produzir uma interpretação capaz de caracterizar como certos enunciados e práticas contemporâneos conformam os sujeitos LGBT no que chamo de vida viável, bem como de que modo esses enunciados e práticas, ao produzirem o sujeito de direito da diversidade sexual, o fazem diante da imposição de biopolíticas tramadas pela lógica de inclusão neoliberal e seus reclames identitários. Para a problematização dessas suspeitas que aponto acima, utilizo um conjunto de documentos oficiais produzidos em parceria entre os movimentos sociais e o Estado que têm, no contexto brasileiro, desde 2002, instaurado os sujeitos da diversidade sexual, bem como conformado esses mesmos sujeitos numa moral das práticas e numa economia do corpo já estabelecidas e legitimadas socialmente. Como contraponto a essa constatação, parto dos últimos cursos de Foucault para provocar algumas tensões nesse empreendimento biopolítico que promove uma espécie de captura da diferença sexual e que deixa pouco espaço para a constituição de outros modos de vida ou para aquilo que denomino, nesse trabalho, de vida vivível. Valendo-me dos aportes foucautianos sobre a noção de ética/estética da existência, do pensamento queer e da figura de Gilda, travesti que viveu nas ruas de Curitiba nos anos 1980, ensaio a elaboração de um argumento que pretende questionar a lógica identitária, bem como caracterizar as formas atuais de contraconduta frente ao processo de normalização dos corpos e das práticas sexuais e afetivo-amorosas LGBT. Abstract: The aim of this research is to study the relation established nowadays between the idea of sexual diversity (and its developments in the political field of social movements and education) and contemporary politics of identity. Starting from what I have critically called the moral-economic-viability of LGBT subjects I try to understand the production of biopolitical arrangements as well as the governing of sexual differences, both of which inscribe their bodies and practices in the heteronormative moral and in the essentializing logics of identity. By means of this argument, I intent to think the contemporary alliance between social movements and the State. This relationship has generated new forms of governing sexual diversity subjects' by way of mechanisms aiming at controlling their bodies, their sexual and love-affective practices, as well as the conducts of lesbians, gays, bisexuals and trans*. My aim is to characterize and define how certain contemporary statements and practices conform LGBT subjects into what I call viable living. Such statements and practices produce the sexual diversity rights' subject by imposing biopolitical regimes based on the logics of neoliberal inclusion and their identitarian claims. To contextualize this hypothesis I discuss an ensemble of official documents produced by both the Brazilian State and Brazilian social movements, which since 2002 have defined the subjects of sexual diversity conforming them into socially well established and well legitimized moral practices and bodily economy. To face these previous considerations, I return to some of Foucault's last courses in order to critically problematize the biopolitical arrangements which capture sexual difference leaving almost no space to the constitution of other and new forms of living, called in this work as livable life. Inspired by Foucauldian notions on ethics/aesthetics of existence, queer thought and by the living example of Gilda, a transvestite that lived in the streets of Curitiba during the 80's, I argue against the identitarian logics and try to characterize actual forms of counter-conduct against the normalizing process which affects LGBT's bodies, sexual and love-affective practices.
Collections
- Teses & Dissertações [9608]