Vulnerabilidade de pescadores paranaenses às mudanças climáticas e os fatores que influenciam suas estratégias de adaptação
Resumo
Resumo: A vulnerabilidade socioambiental dos pescadores artesanais do litoral norte do Paraná, definida pelo seu grau de exposição, sensibilidade e capacidade de adaptação às perturbações que ameaçam a sustentabilidade do seu meio de vida, vem aumentando devido à queda nos estoques de várias espécies e a problemas generalizados de acesso e gestão dos recursos naturais costeiros. Isso já vêm exigindo dos pescadores o desenvolvimento e aplicação de estratégias para lidar com (no curto prazo) e se adaptar (no longo prazo) a essas perturbações. Vivendo e trabalhando junto a áreas de elevada biodiversidade, os pescadores são também afetados pelas restrições trazidas pela legislação ambiental, em especial as unidades de conservação de proteção integral. É possível prever que as alterações associadas às mudanças climáticas funcionarão como fontes adicionais de impacto aos meios de vida dessas populações, principalmente devido à acentuação da queda nos estoques pesqueiros, prevista para as regiões tropicais e subtropicais em decorrência do aquecimento global. As perturbações ao meio de vida dos pescadores, e as estratégias de adaptação desenvolvidas na atualidade, podem ser vistas como análogas dos efeitos e respostas futuros projetados por modelos de mudanças climáticas e afetam de maneira diferenciada essas populações, dependendo de uma série de fatores internos e externos, sociais e ecológicos, que contribuem para gerar condições de vulnerabilidade. Este trabalho teve como objetivos: 1) caracterizar as diferenças na vulnerabilidade de pescadores artesanais no litoral norte do Paraná aos efeitos previstos das mudanças climáticas; 2) testar a eficácia do índice de capacidade adaptativa calculado como previsor de estratégias de adaptação que efetivamente foram adotadas pelos pescadores para lidar com a queda na pesca; e 3) descrever qualitativamente e quantitativamente as diferenças nas estratégias de adaptação adotadas e cogitadas nos domicílios, de acordo com o nível de capacidade adaptativa em que se encontram, e quanto ao efeito sobre elas das unidades de conservação. A análise se baseou em dados coletados por meio da realização de entrevistas estruturadas, em 213 domicílios, distribuídos em 9 vilas, no entorno da porção norte do Complexo Estuarino de Paranaguá, no município de Guaraqueçaba. Os resultados indicam que a vulnerabilidade varia entre as vilas, e mesmo entre domicílios, e as diferenças são determinadas principalmente pelo nível de dependência em relação à pesca, pelo capital físico (capacidade de armazenamento, propriedade de embarcações a motor e diversidade de petrechos) e pelo grau de participação dos moradores em organizações comunitárias. A adoção de estratégias de diversificação para fora da pesca foi maior entre os domicílios com maior capacidade adaptativa. As unidades de conservação afetam a vulnerabilidade dos pescadores duplamente e de maneira diferenciada, restringindo tanto o meio de vida atual quanto as opções de adaptação futura daqueles que já são mais vulneráveis. Os resultados dessa análise serão úteis para a adequação e integração das políticas de adaptação às mudanças climáticas, de gestão da pesca e de conservação da biodiversidade na zona costeira, como forma de promover a resiliência conjunta de pescadores e dos ecossistemas costeiros em um cenário de mudanças climáticas. Abstract: Vulnerability of small-scale fisherfolk in the north coast of Paraná State, Southern Brazil, defined as a composite of their exposure, sensitivity and capacity to cope and adapt to disturbances that threaten their livelihoods, has been increasing due to a decline in catches and general problems of access to and management of coastal natural resources, which have already been forcing fishers to develop coping and adaptation strategies. Living and working in an area of high biodiversity their livelihoods are also restricted by environmental laws, especially conservation actions, represented in the region mainly by no-take protected areas. It is expected that the effects of climate change will represent an additional source of disturbance, especially due to the further decline in catches that is predicted to affect tropical and subtropical fisheries as a result of global warming. A variety of factors, internal and external to the system, social and ecological in origin, contribute to generate different levels of vulnerability to this hazard, which can be analysed as a temporal analogue of future effects and responses to upcoming effects of climate change. This study aimed to: 1) describe differences in vulnerability of fisherfolk in the coast of Paraná to the expected effects of climate change; 2) test the efficiency of an adaptive capacity index to describe adaptation strategies actually employed in the past and present, and considered for the future, by local fishers to deal with the decline in catches; and 3) describe, both in quantitative and qualitative terms, differences in these adaptation strategies, according to different levels of adaptive capacity and to the influence of no-take protected areas on them. Data was collected through household-level interviews applied to 213 households, in 9 villages located around the northern part of the Paranaguá Estuarine Complex. Results show that vulnerability varies among villages and even households in the same village, mainly due to differences in the level of reliance on fisheries as a source of income, in distribution of physical capital (storage capacity, ownership of motorized boats and diversity of fishing gears) and in social capital, measured as the level of participation in community organizations. The adoption of livelihood diversification strategies, to include non-fisheries activities, was more frequent in households with higher adaptive capacity. Protected areas were shown to have a double negative effect on more vulnerable households, by restricting their access to mangrove resources in the present, and by limiting the viability of their favoured adaptation strategy for the future, oyster cultivation. These results are potentially useful for the development of biodiversity conservation, fisheries management and climate change adaptation policies that are adequate to the local level and contribute to build resilience both of fisherfolk and the coastal ecosystems they rely on, helping them to persist, develop and evolve in a scenario of climate change.
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