Falando em música...Um ensaio sobre o papel dos fenômenos linguísticos em uma epidemiologia de representações musicais

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Data
2010Autor
Benfatti, Maurício Fernandes Neves
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Resumo: Esta dissertação foi concebida como uma investigação teórica acerca das relações entre representações verbais e musicais. Para tanto, nossa argumentação se apoiou em uma abordagem que aqui chamamos de teórico-relevante. Descrevemos este viés como uma convergência entre duas teorias: a teoria da relevância (SPERBER & WILSON, 1993, 1995, 2005) e a epidemiologia das representações (SPERBER, 1996, 2000). Estas concepções são complementares, visto que ambas são articuladas a partir de uma perspectiva cognitiva para os comportamentos culturais humanos. Além disso, ambas as teorias rejeitam o modelo tradicional das humanidades para os fenômenos comunicativos, segundo o qual, os significados comunicativos decorrem de processos de codificação/decodificação de informações. Neste trabalho, nós descrevemos como relevância é um conceito cognitivo necessário não só para a teorização adequada acerca da comunicação humana, mas também para que nós possamos compreendê-la como manifestação cultural. No primeiro capítulo, nós demonstramos como este percurso teórico é resultado de uma postura de naturalização do campo de estudos sobre o comportamento linguístico. Para este efeito, a abordagem computacional gerativa (CHOMSKY, 1957), a teoria modular da mente (FODOR, 1983) e a concepção evolucionista de cognição (COSMIDES & TOOBY, 1987) são vistas como desenvolvimentos científicos cruciais que possibilitaram a articulação do viés teórico-relevante. No segundo capítulo, nossa atenção recaiu sobre os modelos de transmissão cultural. Em especial, nós demonstramos que as ciências sociais aceitam passivamente que os fatores psicológicos não influenciam na descrição teórica de nossos comportamentos culturais. Nós nos apoiamos em argumentos oriundos da Psicologia Evolutiva (PINKER, 2004) e da Pragmática para advogarmos a favor de uma concepção massiva para a modularidade da mente, que possibilita explicar a diversidade cultural humana, sem que tenhamos que abdicar de uma teorização inatista da mente. No terceiro capítulo, descrevemos as manifestações verbais e musicais como fenômenos culturalmente comunicativos. Segundo nosso argumento, cultura deve ser compreendida como um sistema emergente resultante de microprocessos psicológicos que acarretam em macroprocessos físicos. Assim, consideramos que há indícios de que, mesmo que a musicalidade humana seja incapaz de redundar em propriedades semânticas, sons musicais são linguagens comunicativas porque, no âmbito individual, podem ser interpretados como demonstrações públicas de intencionalidades comunicativas culturalmente reconhecíveis. Portanto, representações verbais (públicas ou mentais) são consideradas como ferramentas de construção de ambientes cognitivos, que possibilitam aos envolvidos no processo de comunicação a atuarem de forma a disseminar culturalmente as representações musicais (públicas ou mentais). Desta maneira, consideramos o viés teórico aqui apontado como pertinente para compreendermos como as representações musicais se distribuem, tanto como manifestações psicológicas quanto como em demonstrações explícitas. Isto torna plausível a assunção de que músicas são comunicativas por meio de micro e macro processos de disseminações representativas. Finalmente, nós argumentamos pela afirmação de que o conceito de atração cultural é um fator epidemiológico fundamental, além de ser mais adequado aos fenômenos culturais do que uma descrição de processos sociais de replicação de significados contidos em códigos. Abstract: This dissertation was conceived as a theoretical research about the relationship between musical and verbal representations. For this purpose, our argumentation relied on an approach that we called as relevant-theoretical. We described this bias as a convergence between two theories: the relevance theory (SPERBER & WILSON, 1993, 1995, 2005) and the epidemiology of representations (SPERBER, 1996, 2000). These concepts are complementary, as both are articulated from a cognitive perspective on the human's cultural behaviors. Moreover, both theories reject the traditional model of the humanities to the communicative phenomenon, whereby the communicative meanings derive from process of encoding/decoding of information. In this work, we described how relevance is a cognitive concept required not only to an adequate theorizing on human communication, but also so to understand it as a cultural event. In the first chapter, we demonstrate how this theoretical path is the result of a posture of naturalization of the field of studies on the linguistic behavior. To this end, the computational generative approach (CHOMSKY, 1957), the modular theory of mind (FODOR, 1983) and an evolutionary conception of cognition (COSMIDES & TOOBY, 1987) are seen as crucial scientific developments that leaded to an articulation of a relevant-theoretical bias. In the second chapter, our attention falls on the models of cultural transmission. In particular, we demonstrated that the social sciences passively accept that psychological factors do not influence the theoretical description of our cultural behaviors. We rely on arguments from evolutionary psychology (PINKER, 2004) and pragmatics (SPERBER, 1996) to propose our account in favor of a concept for the massive modularity of mind, which allows us to explain human cultural diversity, without giving up an innate theory of mind. In the third chapter, we described the verbal and musical phenomena as culturally communicative. According to our argument, culture must be understood as an emergent system resulting from psychological microprocesses that entail physically structured macroprocesses. Therefore, we think there are evidences that, even the human musicality being unable to viii result in semantic properties, musical sounds are communicative language because, at the individual range, they can be interpreted as demonstrations of communicative intentions culturally recognizable. Therefore, (mental or public) verbal representations are considered as tools to build the cognitive environments, enabling those involved in the communication process to act so as to disseminate in a cultural way the musical representations (mental or public). Thus, we considered the theoretical bias here pointed out as relevant to understanding how musical representations are distributed, as well as psychological manifestations as in explicit statements. This makes plausible the assumption that music is communicative by means of micro and macro processes of representative spreading. Finally, we argue that the concept of cultural attraction is a key epidemiological factor, besides being more appropriate to the cultural phenomenon than a description of social processes of replication of meanings contained in codes.
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