O mais belo ornamento de Roma : administração, ofícios e o Projeto burocrático nas variae de Cassiodoro (507-540 D.C.)
Resumo
Resumo: esta dissertação tem por objetivo apresentar uma analise centrada na Itália ostrogótica do século VI a partir de uma compilação chancelar intitulada Variae, idealizada e organizada pelo funcionário romano Flávio Magno Aurélio Cassiodoro Senator (c. 485 - c. 590 d.C.) por volta de 540. Enquanto personagem de extração tradicional latina, Cassiodoro atuou como um importante funcionário civil sob a coroa dos ostrogodos entre 507 e c. 538: durante este período, assumiu os cargos de Questor, Cônsul, Magister Officiorum e Prefeito do Pretório e, ao final de sua carreira, reuniu uma parte de sua produção oficial e as publicou numa coleção (em 12 livros) pensada, organizada e disposta pelo próprio autor. Nos últimos anos da atuação administrativa de Cassiodoro, o então imperador em Constantinopla, Justiniano I, moveu uma campanha militar contra territórios do ocidente, com destaque para a região da Península Itálica. Este conflito trouxe instabilidade para o poder dos ostrogodos, que sofreu um forte abalo com a perda de Ravena, a capital política, para as forças do general Belisário, em 540. Com a tomada da cidade, seus habitantes mais destacados, entre eles Cassiodoro, são enviados para Constantinopla (nosso autor permaneceria no oriente até 554), e é neste ínterim que deve repousar o entendimento acerca das Variae. Tradicionalmente entendida como um documento que atesta ou uma propaganda ostrogótica ou um exercício estilístico no âmbito dos textos administrativos, tomamos aqui as Variae como parte de um projeto político-burocrático do autor, isto é, como um esforço retórico para legitimar sua atuação e, ao mesmo tempo, apresentar uma dimensão tradicional, política e estável para a máquina de gerência civil, tornando-a uma verdadeira representante do Império Romano sob qualquer tipo de vicissitude política. Para esta compreensão, investigamos essa compilação chancelar enquanto um documento geral e coeso, cuja leitura perpassa uma lógica estruturada pelo autor e guiada por uma ideia de "protagonismos retóricos", isto é, papéis discursivos atribuídos à elementos de recorrência, como o reinado dos ostrogodos ou o império do Oriente, de maneira a formar uma ideia particular, independente do caráter heterogêneo dos assuntos tratados nas cartas individualmente. Destarte, com este exercício exegético, chegamos à conclusão de que as Variae são, por parte de Cassiodoro, uma tentativa de elevar e apresentar a burocracia como a efetiva eternidade de Roma, capaz de atuar independentemente da situação política de seu momento, e por isso tal documento torna-se relevante no contexto de instabilidade em que foi publicado. Acreditamos, assim, propor uma compreensão tanto para os objetivos de Cassiodoro como para o funcionamento da administração, do passado e da tradição na Itália ostrogótica do século VI, de forma a contribuir, de maneira adequada, ao campo de estudos da Antiguidade Tardia. Abstract: this dissertation intends to propose an analysis concerned with the 6th century Ostrogothic Italy through the documental compilation known as Variae, idealized and organized by the Roman officer Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus Senator (c. 485 - c. 590 A.D.) around 540. As a character with a Latin background, Cassiodorus worked as an important civil officer under the Ostrogothic crown between 507 and c. 538: during this period, he was ranked as quaestor, consul, Magister Officiorum and Praetorian Prefect and, at the end of his tenure, gathered a part of his official production and published them in a collection (of 12 books), thought and organized by himself. In the last years of his tenure, the emperor in Constantinople, Justinian I, waged battle against the Western territories, especially the Italic Peninsula. This conflict brought instability to the Ostrogothic power, which suffered a great setback with the loss of Ravenna, its political center, to the forces of the general Belisarius in 540. With the city taken, its most foremost citizens, among them Cassiodorus himself, are sent to Constantinople (our author would stay in the East until 554), and it is in this context that should lie the understanding of the Variae. Traditionally held as a document attesting or a Ostrogothic propaganda or a stylistic exercise for administrative texts, we take the Variae as part of a politicbureaucratic Project, that is, a rhetorical effort to legitimize Cassiodorus' career and proceeding and, at the same time, to present a traditional, political and stable dimension to his administration, making it a true representative of the Roma Empire under any kind of political vicissitude. To this comprehension, we investigate this compilation as a general and cohesive documental, which reading permeates a logic, structured by its author and guided by an Idea of "rhetorical protagonisms", that is, discursive roles attributed to recurring elements such as the Ostrogothic Kingdom or the Eastern Empire, in order to build a particular Idea, regardless the heterogeneous trait of the subjects presented in each letters individually. Thus, with this exegetical effort, we came to the conclusion that the Variae are an attempt of Cassiodorus to elevate and to present the bureaucracy as the effective eternity of Rome, capable of functioning regardless of the political situation, and for that such document becomes relevant in the context of instability in which it was published. That being said, we believe that this panorama can propose a comprehension not only of the objectives of Cassiodorus, but also of the administration and its functioning, of the past and of the tradition in the 6th century Ostrogothic Italy, in a way to adequately contribute the Late Antiquity research Field.
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- Teses & Dissertações [10425]