Interações alimentares entre aves marinhas e o boto cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864), no complexo estuarino-lagunar de Cananéia - SP
Resumo
Resumo: Interações interespecíficas envolvendo aves marinhas e cetáceos são relativamente comuns e taxonomicamente diversas. Interações alimentares entre aves marinhas e o boto-cinza (Sotalia guianensis) foram estudadas entre outubro de 2008 a setembro de 2009 na região do Complexo-Estuarino-Lagunar de Cananéia (SP). Foram registradas 237 interações observadas a partir de pontos-fixos situados em três setores dentro do estuário. As interações mais freqüentes e duradoras para a área como um todo ocorreram entre bandos mistos (52,16%), seguidos pelos atobás (Sula leucogaster) (21,77%), trinta-réis (Sternidae) (15,35%), fragatas (Fregata magnificens) (7,41%), biguás (Phalacrocorax brasilianus) (2,96%) e gaivotas (Larus dominicanus) (0,35%), mas o padrão não foi o mesmo nos três setores amostrais. As freqüências e as durações das interações foram significativamente diferentes entre as espécies de aves (X2 = 109,609; gl= 5; p<0,05; X2 = 211,41; gl= 5; p<0,05, respectivamente) e entre os três setores (X2 = 53,674; gl=2; p<0,0001; X2 = 35,843; gl=2; p<0,0001, respectivamente). A execução dos comportamentos alimentares utilizados pelas espécies de aves diferiu entre os setores tanto quando elas se alimentaram sem a presença de botos, quanto em interações. A maioria das espécies apresentou aumento na execução de comportamentos associados à presença de presas quando interagiram com os botos, sendo encontradas diferenças comportamentais significativas. As freqüências das interações apresentaram variação significativa ao longo dos meses do ano e sazonalmente em dois setores amostrais e estiveram fortemente correlacionadas com a intensidade do vento (r= - 0,97; p= 0,0035; gl= 3) e com o estado de agitação do mar (r= -0,94; p= 0,015; gl=3). A pluviosidade, as correntes de maré e o período do dia apresentaram relação com as freqüências de interação em dois setores amostrais. As interações parecem ocorrer de forma oportunística, de acordo com interesse das aves pelas presas exploradas pelos botos. Os botos facilitam a localização das presas por serem mais facilmente visualizados pelas aves e, como conseqüência de suas estratégias de pesca, deixam os peixes mais acessíveis às aves, o que provavelmente minimiza seus gastos energéticos no forrageio. Aparentemente, os botos não foram prejudicados pelas interações com as aves, sendo elas as únicas beneficiadas. A interação foi classificada, portanto, como comensalismo facultativo.
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