Uma arqueologia do genocídio : a atuação do serviço de proteção aos índios entre os Xetá
Resumo
Resumo: Este trabalho tem como objetivo examinar a atuação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) entre os Xetá à luz do conceito de genocídio. Originários da Serra dos Dourados, no vale do Rio Ivaí, noroeste do Paraná, os Xetá (Tupi-Guarani) foram vítimas de um processo sistemático e vertiginoso de remoção forçada e desintegração social como consequência da expansão colonial da frente cafeeira que movimentava a economia do estado entre as décadas de 1940 e 1950. O SPI teve participação ativa no evento, mas de modo extremamente dúbio. Por um lado, tentou cumprir sua função de proteger os indígenas através da busca pela demarcação de suas terras. Por outro, foi um dos agentes de remoção, além de contribuir diretamente no rapto de crianças xetá. Para tentar compreender essa ambivalência, esta pesquisa se debruça sobre o acervo documental produzido pelo órgão indigenista entre os anos de 1949 e 1967, desde o primeiro registro da existência dos Xetá até a extinção da agência estatal. Tendo o conceito de genocídio como horizonte teórico e político, busca-se estabelecer um contraste entre o SPI como projeto de governamentalização da relação entre Estado e povos indígenas e a dimensão micropolítica de sua atuação entre os Xetá. Examina-se, portanto, o processo do contato e a subsequente integração dos Xetá ao regime tutelar indigenista, com especial foco nas disjunções do projeto de proteção fraternal inicialmente concebidas pelo órgão. Observa-se a quebra do monopólio à assistência indígena e a conversão do Serviço de Proteção aos Índios numa empresa agrícola altamente especializada em extrair rendimentos do chamado patrimônio indígena. Abstract: This thesis aims to examine the operations of the Serviço de Proteção aos Índios (SPI) among the Xetá in the light of the concept of genocide. Originally from the Serra dos Dourados, in the valley of the Ivaí River, northwest Paraná, the Xetá (Tupi-Guarani) were victims of a systematic and vertiginous process of forced removal and social disintegration as a result of the colonial expansion of the coffee front that lead the economy of the state between the 1940s and 1950s. The SPI had an active participation in the event, but in an extremely dubious way. On the one hand, it tried to fulfill its function of protecting the indigenous people through the pursuit for the demarcation of their lands. On the other hand, it was one of the removal agents, in addition to contributing directly to the abduction of Xeta children. In order to try to understand this ambivalence, this research focuses on the documentary archive produced by the indigenist agency between the years 1949 and 1967, from the first record of the existence of the Xetá until the extinction of the state agency. Having the concept of genocide as a theoretical and political horizon, an attempt is made to establish a contrast between the SPI as a project of governmentalization of the relationship between the State and indigenous peoples and the micropolitical dimension of its action among the Xetá. Therefore, the process of contact and the subsequent integration of the Xetá into the indigenist tutelary regime is examined, with special focus on the disjunctions of the fraternal protection project initially conceived by the agency. There is a break in the monopoly on indigenous assistance and the conversion of the Serviço de Proteção aos Índios into an agricultural company highly specialized in extracting income from the so-called indigenous patrimony.
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