Inseminação caseira na concretização de projetos de lesboparentalidade no Brasil
Resumo
Resumo: Esta pesquisa se debruça sobre as lesboparentalidades concretizadas com o uso da inseminação caseira, prática de reprodução autônoma que se utiliza de doadores não-anônimos. Esta prática é disseminada em grupos online que, ao contrário das tecnologias reprodutivas clínicas, não é regulamentada no Brasil pelo CFM. Com o uso de entrevistas em profundidade realizadas com onze tentantes, e participação em três grupos de inseminação caseira no aplicativo de mensagens WhatsApp, compreendeu-se as dinâmicas estabelecidas entre o casal de mulheres, nesses contextos conhecidas como tentantes, e os demais elementos dos processos de inseminação caseira. Em específico, identificou-se como são construídos os compromissos dentro do relacionamento dos casais de mulheres tentantes (no que diz respeito a quem irá gestar, compreensões de família com filhos, entre outros). Em relação ao doador, analisou-se como ele é escolhido por elas e de que forma essa relação é estabelecida; também analisou-se como são as relações com a rede de trocas entre tentantes nas práticas de IC escolhidas por esses casais. Por fim, identificou-se nas falas elementos compartilhados em suas relações familiares que interagiram na construção do planejamento de família com filhos. Concluiu-se que a inseminação caseira é uma prática coerente com o projeto lesboparental, ou seja, em muitos casos a inseminação caseira não aparece enquanto única opção que possa se colocar frente a uma limitação financeira, mas como única prática que corresponde a certas exigências das próprias tentantes. Outrossim, as lesboparentalidades aqui se performam através de vínculos biológicos e sociais, correspondendo a um modelo já conhecido de parentesco, no qual a mãe que não gesta se constrói através da relação e do planejamento em conjunto com a companheira. Os grupos de inseminação caseira são de extrema importância não apenas para a disseminação das práticas, mas para o controle e circulação de doadores e protocolos de atuação, assim como denúncias e demais informações pertinentes em relação a circulação de doadores nesses espaços. Os doadores são escolhidos de diversos modos, de acordo com o planejamento pessoal de cada tentante. No entanto, elementos como aparência física correspondente à mãe que não irá gestar, localização e número de doações que resultaram positivos, podem ser diferenciais. Ainda assim, existe um elemento de confiança subjetivo, um "feeling", que é acionado devido ao próprio elemento de não-anonimato do doador. Abstract: This research focuses on the lesboparentalities realized with the use of home insemination, a practice of autonomous reproduction that uses non-anonymous donors. This practice is disseminated in online groups which, unlike clinical reproductive technologies, is not regulated in Brazil by the CFM. With the use of in-depth interviews carried out with eleven tempters, and participation in three groups of home insemination on the WhatsApp messaging application, the dynamics established between the couple of women, in these contexts known as tentantes, and the other elements of the processes were understood. of home insemination. Specifically, it was identified how commitments are built within the relationship of couples of tentantes (with regard to who will give birth, family understandings with children, among others). Regarding the donor, it was analyzed how he is chosen by them and how this relationship is established; it was also analyzed how are the relationships with the exchange network between those trying to practice the home insemination chosen by these couples. Finally, elements shared in their family relationships that interacted in the construction of family planning with children were identified in the speeches. It was concluded that home insemination is a practice coherent with the lesboparental project, that is, in many cases home insemination does not appear as the only option that can be faced with a financial limitation, but as the only practice that corresponds to certain requirements of the own tentantes. Furthermore, lesboparenting here is performed through biological and social bonds, corresponding to an already known model of kinship, in which the mother who is not pregnant is built through the relationship and planning together with her partner. Home insemination groups are extremely important not only for the dissemination of practices, but for the control and circulation of donors and action protocols, as well as complaints and other pertinent information regarding the circulation of donors in these spaces. The donors are chosen in different ways, according to the personal planning of each candidate. However, elements such as physical appearance corresponding to the mother who will not be pregnant, location and number of donations that were positive, can be differentials. Still, there is an element of subjective trust, a "feeling", which is triggered due to the donor's own non-anonymity element.
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