| dc.description.abstract | Resumo: Apesar de a endodontia ser o procedimento terapêutico mais eficiente, no tratamento das doenças da polpa e dos tecidos periapicais, em algumas condições clínicas ela é impraticável devido à condições anatômicas do dente, presença de materiais metálicos no interior do canal, que venham impossibilitar o acesso a região apical e outras situações. Porém dispõe o clínico de outros recursos, particularmente cirúrgicos, para contornar estas impossibilidades da endodontia, dentre eles a cirurgia parendodôntica, que sem dúvida constitui-se na mais adequada e eficiente intervenção, com a finalidade de preservar o dente. Tais procedimentos cirúrgicos podem ser realizados como uso de diferentes técnicas como a curetagem apical, a fistulização artificial, a fenestração e, na atualidade, mais comumente a apicectomia com ou sem retro-obturação do canal radicular. Nosso trabalho teve por objetivo, fundamentado em revisão de literatura, comparar a reação tecidual aos materiais utilizados nas retro-obturações. Em seu desenvolvimento, fomos nos apercebendo cada vez mais que outros fatores, como a não obturação prévia do canal radicular com manutenção de material séptico ou tóxico no seu interior, condições peculiares de cada indivíduo, localização anatômica do dente e outras, poderiam juntamente com resposta tecidual indesejável aos materiais retro-obturadores, comprometer o sucesso desejado. Contudo, em decorrência de nossa própria proposição, tivemos que nos ater mais a análise daqueles materiais da forma mais ampla e abrangente possível. De todos os materiais estudados na literatura, os que mais chamaram a atenção foram o amálgama de prata com ou sem zinco, o amálgama de cobre, a guta-percha, o Cavit, os cimentos de policarboxilato e o ouro coesivo. A análise da literatura nos permitiu verificar que, apesar de todos os materiais citados terem merecido várias investigações, a guta-percha e o amálgama de prata foram, sem dúvida, os mais estudados, por terem apresentado melhor tolerância tecidual. Praticamente descartada a utilização dos demais materiais, pudemos concluir, como na maioria dos trabalhos, pela indicação da guta-percha em primeiro lugar, e a seguir, do amálgama de prata. A análise dos diversos trabalhos, relativos a cirurgias parendodônticas, nos permite algumas observações, que acreditamos de fundamental importância. Assim é que, apesar da intensão de este trabalho ser uma revisão crítica dos materiais utilizados nas retro-obturações, diversos outros elementos foram surgindo, que nos obrigam a algumas considerações mais amplas, uma vez que os diversos materiais constituem-se em apenas um dos elementos implicados nas várias formas de reações teciduais que podem ocorrer. A própria reparação do trauma cirúrgico, as condições clínicas do dente em que se interveio, as reações individuais do paciente e, finalmente, a toxicidade do material empregado são fatores que poderão alterar substancialmente os resultados. Fica evidente que, quando realizamos tal cirurgia em um dente superior anterior, a própria situação anatômica é muito mais favorável, em termos de maior facilidade de acesso, menor trauma e melhor visibilidade do campo operatório do que se estivermos intervindo, por exemplo, em raízes de pré-molares ou molares inferiores. Por outro lado, ficou patente, na revisão da literatura, que as condições de saúde do periodonto, a conformação das raízes a serem tratadas e ainda, senão principalmente mas como elemento de muita relevância, o fato de o canal radicular estar previamente obturado ou ser possível de sê-lo, durante a intervenção, com cones de guta-percha e um cimento. Os trabalhos de BERNABÉ em 1976 e 1981-confirmam cabalmente esta última observação, tendo ele verificado que nem o amálgama de prata e nem a guta-percha provocaram um selamento absoluto e que, particularmente, quando ocorrer reabsorções radiculares que tendem a colocar os tecidos periapicais em contato com o conteúdo séptico ou tóxico do interior dos canais, as reações daqueles tecidos são consideravelmente mais desfavoráveis. Outro fator a ser levado em conta é o de que quase todas as observações histológicas realizadas com materiais utilizados nas retro-obturações o foram, por razões evidente feitas em animais de laboratório e que várias condições peculiares ao homem podem, eventualmente, alterar em muito os resultados, mesmo os de procedimentos altamente padronizados. Leve-se em consideração as condições existentes do paciente, sua situação emocional, o cumprimento das recomendações pós-operatórias e outras que fogem ao controle de qualquer clínico. No que diz respeito â reações teciduais aos materiais utilizados nas retro-obturações, apesar de diversos terem sido testados, o amálgama de prata e a guta-percha são os que têm merecido, como já foi citado, maior número de observações. Apesar de termos observado, na revisão da literatura, algumas pequenas discrepâncias entre os resultados obtidos com ambos, pôde-se verificar que, de maneira geral, tanto um quanto outro são bastante bem tolerados pelos tecidos. (MITCHELL, 1959; MARCOTTE et alii, 1975; BERNABÉ, 1977) apesar de a guta-percha ter, em algumas investigações, sido melhor tolerada. BERNABÉ, 1981 afirma: "Temos de admitir que o número de variáveis que pode interferir ou influenciar a resposta tecidual, frente ao amálgama de prata, é muito maior do que com a guta-percha. A maioria dos trabalhos que não mostram diferenças biológicas entre a guta-percha e o amálgama de prata, foram realizadas em tecido conjuntivo subcutâneo de ratos, e em tecido ósseo, e englobaram tempo pós-operatório curto, não ultrapassando os 90 dias. Talvez um pós-operatório mais dilatado fosse realmente necessário para se salientarem as diferenças entre um material e outro. Nossos resultados mostraram que em 6 meses se evidenciam pequenas diferenças, provavelmente em decorrência da oxidação do amálgama de prata". Outro elemento desfavorável ao amálgama de prata e que não ocorre com a guta-percha ê a dispersão de partículas para o interior do tecido periodontal apical acarretando reações inflamatórias que envolvem essas partículas. Por outro lado, falhas no selamento marginal ocorrem, como sabemos, em ambos os materiais. Como amálgama de prata, o processo inflamatório decorrente interage acentuando o processo de corrosão e dispersão do amálgama. RUD & ANDREASEN (1972) verificaram que algumas das partículas do amálgama de prata, dispersas pelo interior do tecido periapical dos dentes humanos, estavam rodeadas de células inflamatórias. A despeito disto, consideram esse material bem aceito pelo organismo, porém, quando comparado ao cimento Rickert. Com exceção do único trabalho encontrado na literatura (ARAÚJO, 1983) que utiliza um selante do sistema nuva fil, com limalha de prata, sem zinco de grão fino, para recobrir o ápice radicular após sua ressecção, e que afirma ter obtido excelentes resultados, apesar de apenas clínicos e radiográficos, todos os demais materiais estudados na literatura mostraram-se extremamente mais irritantes que o amálgama de prata e a guta-percha, particularmente, o amálgama de cobre, o Cavit e os cimentos de policarboxilato. Nossa revisão da literatura, bem como esta discussão, evidentemente, constituem-se apenas numa contribuição ao estudo dos materiais utilizados nas retro-obturações. Sem pretensão de ser um trabalho completo, acreditamos que mostra ser o assunto consideravelmente amplo, particularmente pela enorme qualidade de fatores envolvidos na consecução do objetivo final que ê a preservação do órgão dental, e que muitas partes ficam abertas para futuras investigações. Além disso, a coletânea de trabalho, aqui apresentada, é a que consideramos ser a melhor existente na literatura, podendo assim auxiliar colegas e, particularmente, estudantes no amplo conhecimento do tema. | pt_BR |
