"Da Luta à espera" : as experiências de acompanhantes-cuidadoras de doentes com câncer
Resumo
Resumo: Este texto é resultado de uma pesquisa realizada no pátio do Hospital Erasto Gaertner, ou ainda, "hospital do câncer", na cidade de Curitiba. Embora o pátio seja vivenciado por indivíduos diversos, aqui, tive como foco o grupo que denomino acompanhantes-cuidadoras, mulheres que cuidam de familiares doentes com câncer. A partir delas, tem-se como objetivo geral compreender como percebem e vivem a prática do cuidado, bem como percebem a si e àqueles que são cuidados por elas. As dimensões exploradas nos objetivos específicos, por sua vez, são: 1) Os sentidos de cuidado que as acompanhantes-cuidadoras constroem nas relações com os familiares com câncer e como elas se percebem e percebem o outro que é cuidado; 2) Os desafios para o cuidado, estes relativos a habilidades, políticas, técnicas, valores, sentidos de si, entre outros; 3) A gendrificação (ou uma não democratização) da prática do cuidado. De caráter qualitativo, a pesquisa se desenvolveu com a aplicação de entrevistas semiestruturadas e por meio da observação no pátio do hospital, com anotações no diário de campo durante todo o processo. No total, foram entrevistadas nove acompanhantes-cuidadoras. Os dados provenientes destes esforços são analisados sob o olhar sociológico pela perspectiva de gênero e dos estudos do cuidado. Em suma, percebe-se que o afeto pelos familiares constitui uma proeminente justificativa para o acompanhamentocuidado. Além dele, nota-se a existência de outros sentimentos que despertam um senso de responsabilidade pela pessoa doente, tais como os de dever, de missão e de obrigação. Em suas jornadas como acompanhantes-cuidadoras, as mulheres empregam quantidade expressiva de seu tempo para o cuidado, tendo de lidar ainda com o acúmulo de responsabilidades, conflitos no interior da família, a experiência de um lugar - o hospital - de significados contraditórios e a falta de políticas que as visibilizem. Constata-se também uma naturalização do cuidado como algo genuinamente feminino e dentro do atendimento familiar, sendo estes alguns dos entraves para a promoção de um cuidado equitativo (portanto democrático e politizado, que ultrapasse o âmbito da família) e que não sobrecarregue tão somente as mulheres. Palavras-chaves: Câncer. Cuidado. Gênero. Trabalho. Abstract: This dissertation is the result of a research conducted in the courtyard of Erasto Gaertner Hospital, also called "the cancer hospital", located in the city of Curitiba, Brazil. Although this courtyard is experienced by diverse individuals, here I focused on a group that I call she-companion-caregivers, women who care for family members ill with cancer. From these women, the general aim is to understand how they perceive and live this practice of care, as well as the manner in which they see themselves and see those who are cared by them. In this sense, the dimensions explored in the specific objectives are the following: 1) The meanings of care that the she-companion-caregivers build in the relations with family members with cancer and how they notice themselves and notice the one who is being cared for; 2) The challenges of care, in regard to skills, policies, techniques, values, sense of selves, among others; 3) The gendrification (or a non-democratization) of the practice of care. In a qualitative manner, the research has developed with the application of semi-structured interviews and through means of observation in the hospital's courtyard, while making use of fieldnotes during the whole process. In total, nine shecompanion- caregivers have been interviewed. The data, derived from these efforts, are analyzed under a sociological eye, from the perspective of gender and care studies. In conclusion, it should be noted that the affection for family members constitutes a predominant justification for monitoring-care. Moreover, the existence of other feelings of responsibility for the ill person, such as duty, mission and obligation is also noted. In their journeys as she-companion-caregivers, these women employ a significant amount of their time for care, while also dealing with the accumulation of responsibilities, inner-family conflicts, the experience of a place - the hospital - of conflicting meanings and the lack of policies to visibilise them. A trivialization of care as something genuinely feminine and part of the family service is also noted, this being one of the obstacles for the promotion of an egalitarian (therefore democratic and politicized, surpassing the familial sphere) that does not overburden only women. Keywords: Cancer. Care. Gender. Work.
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