A transiçao entre hipo- e hiper-regulaçao osmótica do plasma em peixes Eurihalinos
Resumo
Os teleósteos são eurihalinos e possuem capacidade de tolerar amplas variações de salinidade. Por estarem sujeitos a variação diária de salinidade, as espécies estuarinas eurihalinas como os baiacus tropicais Sphoeroides testudineus (mais tolerante a redução de salinidade) e Sphoeroides greeleyi e o killifish temperado Fundulus heteroclitus são modelos interessantes para o estudo de mecanismos de osmorregulação. Além de espécies estuarinas, a truta arco-íris Oncorhynchus mykiss, espécie temperada dulcícola, também é um modelo muito estudado. Com o objetivo de avaliar mecanismos que ocorrem durante a transição entre hipo- (em salinidade 35‰) e hiper-regulação (em salinidade 5‰) osmótica do plasma em peixes eurihalinos, avaliou-se a participação do NKCC, da Na+,K+- ATPase, das reservas metabólicas (lipídicas) e da atividade ATPásica total nos baiacus durante a hipo-regulação e hiper-regulação; descreveu-se a morfologia e a ultraestrutura do rim de S. testudineus; e avaliaram-se os fluxos unidirecionais de Na+ e Ca2+ em F. heteroclitus e O. mykiss durante a elevação gradual da salinidade
ao longo de 6 horas. Durante a hiper-regulação (5‰) e a hipo-regulação (35‰), ambas as espécies de baiacus apresentaram mecanismos de regulação osmoiônica semelhantes, e mesmo padrão de resposta às salinidades. O NKCC dos baiacus atuou na secreção de sal de em 35‰ das duas espécies de baiacus e na regulação do conteúdo de água das células musculares e no hematócrito de S. testudineus. Este transportador pode ser parcialmente responsável pela elevada capacidade de S. testudineus de tolerar a diluição da água do mar durante a maré baixa. Em geral foi demonstrada uma tendência a redução nas concentrações plasmáticas osmóticas e iônicas em 5‰ e controle do conteúdo de água das células, a despeito da ligeira diluição do plasma nos dois baiacus. A Na+,K+- ATPase branquial mostrou não ser um dos motivos para a maior tolerância de S. testudineus à água do mar diluída, por não sofrer alterações no sinal imunocitoquímico frente a hipo- e hiper-regulação. Contudo, diferenças no conteúdo de triglicerídeos das brânquias e rins podem ser parte da explicação para a tolerância diferencial. S. testudineus revelou possuir um tipo raro de rim por apresentar rim anterior com glomérulos e túbulos renais cercados por tecido hematopoiético e um grande duto coletor convoluto denominado de duto mesonéfrico (única estrutura do rim posterior). Apesar desta morfologia pouco comum quando comparada à morfologia de outras espécies marinhas-estuarinas, o rim de S. testudineus atua ativamente
juntamente com as brânquias no controle da homeostase do líquido extracelular. Frente à elevação gradual de salinidade simulando o ciclo de maré enchente, F. heteroclitus manteve a homeostase dos íons Na+ e Ca2+ sem alterar suas concentrações corporais, confirmando sua capacidade de tolerar a elevação diária da salinidade com a subida da maré em seu ambiente natural. Em salinidade elevada, O. mykiss perdeu a capacidade de manutenção das concentrações de Na+ e Ca2+ plasmáticas devido ao aumento no influxo de ambos os íons. Este resultado mostra que a espécie estuarina ativa mecanismos de osmorregulação para manutenção da homeostase dos íons Na+ e Ca2+ durante a transição gradual entre hiper- e hipo-regulação do plasma, o que não acontece com a espécie dulcícola, por esta não ser submetida regularmente a elevação de salinidade em seu ambiente natural. Com estes resultados esta tese contribuiu para o conhecimento da fisiologia da osmorregulação em peixes estuarinos diante do desafio da mudança rápida na salinidade do seu ambiente
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