Ecologia e conservação de Alouatta guariba clamitants cabrera, 1940 em floresta ombrófila mista no estado do Paraná, Brasil

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Data
2004Autor
Miranda, João Marcelo Deliberador
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Os bugios (Gênero Alouatta Lacépède, 1799) são animais sociais e apresentam grandes variações na composição sexo-etária de seus grupos. Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940 por sua vez apresenta grupos pequenos (2-13 indivíduos). Essas composições, todavia, são dinâmicas no espaço e no tempo. As áreas de vida de uma espécie podem variar em relação ao tamanho do grupo, à categoria trófica a que esta pertence e com relação à produtividade do habitat. Associando as informações da biologia e ecologia básica da espécie pode-se inferir a respeito de seu estado de conservação. Os trabalhos de longo prazo que mostram aspectos de sua dinâmica populacional são raros e da mesma forma são os estudos sobre área de vida e uso do espaço por bugios-ruivos em Floresta Ombrófila Mista. Além disso não se tem um conhecimento exato sobre o status e a conservação deste táxon no Estado do Paraná. Diante dessas considerações foram formulados os objetivos deste estudo. O trabalho se deu na Chácara Payquerê, Município de Balsa Nova, Estado do Paraná, Sul do Brasil. A área é inserida na Floresta Ombrófila Mista e faz parte da APA da Escarpa Devoniana (25°29’S e 49°39’W). O trabalho de composição e dinâmica de grupos foi conduzido de fevereiro de 2002 a junho de 2004, identificando grupos, registrando sua composição sexo-etária e sua dinâmica. As classes sexo-etárias utilizadas foram as mesmas propostas por MENDES (1989). Durante um ano (setembro de 2003 a agosto de 2004) foram estudadas as áreas de vida e o uso do espaço diferenciado por dois grupos de A. g. clamitans, um em floresta primária alterada e outro em floresta secundária. As áreas de vida foram obtidas pelo método do esquadrinhamento. Para se coletar dados a respeito do uso do espaço vertical se utilizou o método de varredura instantânea com intervalos de 10 minutos (ALTMANN, 1974). Utilizando-se o número médio de indivíduos por grupo e o tamanho médio da área de vida encontrou-se a densidade populacional, multiplicando este número pela área total do remanescente obteve-se uma estimativa populacional. Foram identificados cinco grupos na área de estudo, no decorrer dos três anos, as
médias de suas composições foram: 6,33 indivíduos/grupo; 1,47 machos adultos/grupo; 0,46 machos subadultos/grupo; 2,2 fêmeas adultas/grupo; 1,13 juvenis II/grupo; 0,8 juvenis I/grupo e 0,27 infantes/grupo. Quanto à dinâmica dos grupos registraram-se: 11
nascimentos; 25 mudanças de categoria etária; 5 indivíduos transeuntes (três fêmeas adultas e 2 machos adultos); 1 morte ou desaparecimento e a quebra de um grupo em dois. A taxa de natalidade encontrada foi de 0,72 infante por fêmea adulta (ano de 2003).
A composição dos grupos deste estudo mostrou-se congruente a outros grupos descritos na literatura. Ocorreu uma proporção média de 1,5 fêmea adulta por macho adulto. A presença de indivíduos transeuntes de ambos os sexos corrobora a idéia de que no gênero Alouatta machos e fêmeas migram. As áreas de vida não foram significativamente diferentes e apresentaram uma média de 16,75ha. Quanto ao uso do espaço horizontal, o grupo de floresta primária mostrou uma maior homogeneidade que o grupo de floresta secundária. As áreas nucleares foram de 2 e 1,75ha, para o grupo de floresta primária e de floresta secundária respectivamente. Em relação ao uso vertical do espaço foi mais diferenciado. Quanto ao critério altura os bugios da floresta primária apresentaram uma média de 20,38m ± 6,3, já na mata em regeneração observou-se uma média de 11,58m ± 5,2. No critério substrato, o mais utilizado pelos dois grupos foi galho (65,6 e 69,9%) seguida pelo uso da ramada (34,3 e 29%) para os grupos de floresta primária e secundária respectivamente. Já para o critério estrato florestal a maior utilização sem dúvida é do dossel (97,3 na floresta primária e 97,7% na floresta secundária). A. g. clamitans utilizou os dois estágios de
sucessão de forma muito similar, nos vários critérios avaliados, respeitando as diferenças impostas pelo ambiente. Mostrando-se bem adaptado ao ambiente em regeneração. A densidade de bugios-ruivos foi 0,38 indivíduos por hectare, com uma estimativa populacional de 266 animais para toda a área do remanescente, distribuídos em 48 grupos. A população deu indicações de estar em crescimento, talvez ligada a ocupação da floresta secundária. Aparentemente a população estudada está bem conservada, porém o desmatamento e a caça ilegal podem comprometer a sobrevivência dos bugios em longo prazo. Esta é uma população significativa de A. g. clamitans que merece ser conservada.
O remanescente florestal do Bugre pode ser efetivamente conservado através da criação de uma Unidade de Conservação de uso mais restritivo. Palavras-chave: bugio-ruivo, Alouatta fusca, ecologia populacional, Floresta com Araucária, área de vida, uso do espaço, exigência espacial The Howler monkeys (Genus Alouatta Lacépède, 1799) are social animal and present great variations in age-sex composition. Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940 presents small groups (2-13 individuals). These compositions, however, are dynamic in space and time. The home range can vary in relation to the size of the group, to the trophic category that this one belongs and in relation to the habitat productivity. Associating information from the basic biology and ecology of the species it can be inferred its state of conservation. Since works of long time are rare that shows aspects of its population dynamics and in the same way are the studies of home range and use of space for Brown howler monkeys in Araucaria Pine Forest. Moreover, the status and the conservation of this táxon in the State of the Paraná is not very know. Ahead of these reasons the objectives of this study were formulated.
The work was carried out in Chácara Payquerê, Municipality of Balsa Nova, Paraná State, South of Brazil. The area is located in Araucária Pine Forest and is part of the APA da Escarpa Devoniana (Enviroment Protection Área of the Devoniana Scarp) (25°29'S and 49°39'W). The work of composition and dynamics of groups was lead since February of 2002 to June of 2004, identified groups, registered its age-sex composition and its dynamics. The age-sex categories employed was the same proposed by MENDES (1989). During one year (September of 2003 to August of 2004) the home range and use of space of two groups of A. g. clamitans were studied, one in a primary forest modified and another in a secondary forest. The home range was obtained by the grid of quadrants method. To datas from the use of vertical space was used the instantaneous scan sampling method, with intervals of 10 minutes (ALTMANN, 1974). Using the average number of individuals per group and the average size of home range a density of the population is obtained multiplying this number to the total area of the remnant an estimate of the population is attained.
During 3 years, six groups in the study area were identified, the averages of its compositions were: 6.3 individuals/group; 1.5 adult males/group; 0.5 subadult males/group; 2.2 adult females/group; 1.1 juveniles II/group; 0.8 juveniles I/group and 0.3 infants/group. About the groups dynamics its was registered: 11 births; 25 changes of age category; 5 solitary individuals (3 adult females and 2 adult males); 1 death or disappearance and the fission of one group in two. A natality rate of 0.72 infant per adult female (year of 2003). The groups composition of this study revealed similar to others described in literature. An average ratio of 1.5 adult females per adult males occurred. The presence of solitary individuals of both sex corroborates the idea of that in the genus Alouatta male and female can migrate.
The home ranges weren’t significantly different and presented an average of 16,75ha. About the use of the horizontal space, the group of primary forest showed a bigger homogeneity than that the group of secondary forest. The core areas were 2 and 1.75ha, for the group of primary forest and secondary forest respectively. The vertical use
of space was more differentiated. About the height, the Howler monkey of the primary forest presented an average of 20.38m ± 6.3, already in the forst in regeneration forest an average of 11.58m ± 5,2 was observed. In relation the substratum used, the most used for the two groups were twig (65.6 and 69.9%) followed by the use of the branches (34.3 and 29%) for the groups of primary and secondary forest respectively. For the criterion forest layer the most used was of the canopy (97.3 in primary forest and 97.7% in the secondary forest). A. g. clamitans used the two habitats of very similar form, in all evaluated criterions, respecting the differences imposed by the environment. And revealed well suitable to the environment in regeneration.
The density of Brown howler monkey was 0.38 individuals per hectare, with a population estimate of 266 animals for all the area of the remnant, divided in 48 groups. The population indicated to be in growth, perhaps due to occupation of the secondary Forest. It seems that the studied population is well conserved, however the deforestation and illegal hunting can compromise the survival of the howler monkeys in long term period. This is a significant population of the A. g. clamitans that deserves to be conserved. This forest remnant must be effectively conserved through the creation of a Conservation Unit of more restrictive use.
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