Avaliação da atividade antiinflamatória tópica da Vernonia scorpioides (Lam) Persons em modelos de inflamação cutânea em camundongos
Abstract
Resumo: A Vernonia scorpioides Lam. Persons (Asteraceae) é uma planta de ocorrência
comum na mata atlântica do Brasil, sendo utilizada topicamente na medicina tradicional
para tratar uma variedade de afecções cutâneas. Em sua composição fitoquímica estão
presentes as lactonas sesquiterpênicas e flavonóides, nos quais já demonstraram
atividade antiinflamatória em vários estudos. O presente estudo teve por objetivo a
avaliação da atividade antiinflamatória tópica do extrato etanólico da Vernonia
scorpioides (EEVS), bem como das frações e do composto isolado luteolina sobre os
processos inflamatórios cutâneos agudos e crônicos, utilizando o modelo de edema de
orelha em camundongos (Swiss fêmeas e machos, pesando entre 25 a 30 g) induzido
pela aplicação tópica do 12-O-tetradecanoil forbol acetato (TPA), ácido araquidônico
(AA), capsaicina, fenol, histamina, oxazolona e óleo de cróton. A aplicação tópica do
EEVS inibiu o edema induzido pelo TPA de maneira dose-dependente, com uma
DI50=0,31 (0,21-0,45) mg/orelha e Imax de 80±5% (1 mg/orelha). A infiltração de
neutrófilos, através da avaliação da atividade da mieloperoxidase (MPO), também foi
inibida (Imax = 77±8%, 1 mg/orelha) nesse modelo, sendo esses resultados
confirmados na análise histológica. Todas as frações testadas (diclorometano, acetato,
acetato enriquecido e hexano), assim como o composto isolado luteolina, promoveram
um efeito anti-edematogênico (70±5%, 57±5%, 53±4%, 35±8% e 44±11%,
respectivamente). Da mesma forma que o EEVS, a fração diclorometano e acetato
também inibiram de maneira dose-dependente a formação do edema, bem como a
atividade da MPO. O EEVS e a luteolina reduziram a formação de ROS em amostras de
orelhas submetidas à aplicação do TPA. A aplicação tópica do EEVS no modelo do AA
também resultou na redução do edema com uma DI50=0,68 (0,41-1,13) mg/orelha e
Imax = 60±8% (1 mg/orelha). O EEVS aplicado topicamente foi capaz de alterar a
formação do edema em outros modelos de inflamação cutânea aguda, como no modelo
de edema de orelha induzido pela capsaicina (25±7%), fenol (88±6%) e histamina
(25±7%). No modelo de hipersensibilidade tardia, o EEVS se mostrou efetivo já nas
primeiras 24 h após o desafio com a oxazolona quando o tratamento foi realizado somente na fase efetora ou em ambas as fases (indução e efetora), com uma inibição
de 63,4% e 42,9%, respectivamente, mantendo esse efeito até a última medida do
edema (96 h). A atividade da MPO foi inibida de forma significativa pelo EEVS quando
avaliada 24 h após a re-exposição à oxazolona (53±16%). No entanto, o EEVS não
atuou sobre a proliferação dos linfócitos CD4
+ e CD8
+ presentes no linfonodo. No modelo
de inflamação crônica da pele, o EEVS reduziu o edema e a hiperproliferação
epidérmica após a aplicação repetida do óleo de cróton (inibição de 31 ± 2% no nono
dia de tratamento). O EEVS também inibiu a atividade da MPO, porém não foi capaz de
atuar sobre a atividade da n-acetil-ß-D glucosaminidase (NAG). Em conclusão, os
resultados obtidos sugerem que o EEVS é efetivo na inibição de processos
inflamatórios cutâneos agudos e crônicos, bem como na resposta inflamatória envolvida
na reação de hipersensibilidade do tipo tardia, e que o efeito antiinflamatório do EEVS
provavelmente resulta da ação sinérgica de vários compostos que promovem a redução
da síntese de metabólitos do AA e a redução de ROS na derme. Assim, o presente
trabalho valida o uso popular da V. scorpioides sobre processos inflamatórios cutâneos
e introduz a V. scorpioides como uma planta de significativo interesse para o
desenvolvimento de um novo antiinflamatório tópico. The Vernonia scorpioides Lam. (Asteraceae) Persons, is a native Brazilian medicinal
plant commonly used topically in the folk medicine to treat some skin disorders,
including chronic ulcers, allergies, irritations and pruritus. Some compounds as lactones
sesquiterpenes and flavonoids are present in this specie and have been presenting antiinflammatory
activities. The aim of the present study was to evaluate the topical antiinflammatory
activity of Vernonia scorpioides in acute and chronic skin inflammation,
using the mice ear oedema model (female and male Swiss, 25-30 g) induced by topical
application of 12-O-tetradecanoilforbol acetate (TPA), arachidonic acid (AA), capsaicin,
phenol, histamine, oxazolone and croton oil. The topical application of ethanolic extract
of V. scorpioides (EEVS) caused a dose-related inhibition of oedema in TPA-induced
ear oedema model, showing a DI50=0,31 (0,21-0,45) mg/ear and 80±5% of inhibition (1
mg/ear). The neutrophils infiltration, evaluated by myeloperoxidase (MPO) activity, also
was inhibited in this acute model (Imax=77±8%, 1 mg/ear), confirmed by histological
analysis. All the fractions tested, dichlorometane (DCM), acetate, enriched acetate and
hexane, as well the isolated compound luteoline, promoted an anti-oedematogenic
effect (70±5%, 57±5%, 53±4%, 35±8% e 44±11%, respectively). As shown by EEVS,
the DCM and acetate fraction also promoted a dose-related inhibition of ear oedema
and the MPO activity induced by TPA. The EEVS and luteoline reduced the ROS
production in the ear treated with TPA. The topical application of EEVS also resulted in
reduction of the AA-induced ear oedema [DI50=0,68 (0,41-1,13) mg/ear and Imax=60±8%
(1 mg/ear)]. The EEVS applied topically was able to inhibit the oedema formation when it
was caused by capsaicin, phenol and histamine (25±7%, 88±6% and 25±7%,
respectively). In the delayed hypersensitivity model, the EEVS showed to be effective in
the first 24 h after the challenge with oxazolone when the treatment occurred in the
effector phase or both phases (induction and effector), with an inhibition of 63,4% and
42, 9%, respectively, sustaining this effect until the last measurement (96 h). The MPO
activity was inhibited by EEVS when it was evaluated 24 h after the challenge with
oxazolone (53±16%). However, EEVS did not show any effect on lymphocytes CD4
+ and CD8
+ proliferation in the lymphonode. In the inflammation chronic model, the EEVS
reduced the oedema formation and the epidermal hiperproliferation (inhibition of 31 ±
2% in day 9). The EEVS also inhibited the MPO activity, but it was not able to reduce the
n-acetil-â-D glucosaminidase activity (NAG). In conclusion, these results taken together
suggest that EEVS is effective to inhibit acute and chronic inflammatory responses of
skin, as well as the inflammatory process involved in delayed hypersensitivity reaction
and suggests that the V. scorpioides mechanism of action results from a synergic action
of several compounds that probably promotes de synthesis reduction of AA metabolites
and reduction of ROS. Thus, it validates the traditional use of V. scorpioides as a
medicinal plant and introduces this plant as interesting to the development of a new
topical anti-inflammatory.
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