Neuroadaptaçao de virus dengue em modelo murino : identificaçao de marcadores moleculares
Resumo
O vírus da dengue (DENV), um membro do gênero Flavivirus (família Flaviviridae), é
um arbovírus que causa severa doença em humanos. O espectro da doença varia
desde uma febre indiferenciada (FD) até a febre hemorrágica da dengue (FHD), que
pode evoluir para a síndrome do choque da dengue (SCD) e morte. Mais
recentemente, o perfil clínico da infecção pelo DENV está mudando e um aumento
significativo de casos clínicos com manifestações neurológicas vem sendo
documentado. O(s) mecanismo(s) pelo qual o DENV pode causar doença grave e a
contribuição de fatores virais e do hospedeiro para o desenvolvimento dos quadros
clínicos severos, não está completamente compreendido. A falta de um modelo
animal, que reflita as formas graves da doença é um obstáculo para se estudar
alguns aspectos da patogênese da dengue. O sistema nervoso central (SNC) de
camundongos neonatos tem sido utilizado como modelo para compreender a
fisiopatologia da doença. Para confirmar e definir o envolvimento de substituições de
aminoácidos no genoma viral que pudessem estar relacionadas com a aquisição de
um fenótipo de neurovirulência do DENV em camundongos, a cepas do sorotipo 1
do vírus (DENV-1) FGA/89 foi adapta ao SNC de camundongos neonatos suíços. A
capacidade da nova variante neuroadaptada replicar-se no SNC e provocar
encefalite foi analisada. Durante o processo de neuroadaptação do vírus FGA/89,
uma substituição de aminoácido na proteína de envelope (E) e duas na proteína
não-estrutural 3 (NS3) foram observadas. Estas mutações foram identificadas
primeiramente nos vírus resultantes da terceira passagem (FGA/NA P3) e
observadas até a sexta passagem. As substituições E Phe402/Leu e NS3 Leu480/Ser
identificadas na variante FGA/NA P3-P6, embora não idênticas àquelas observadas
em FGA/NA d1d (outra variante neuroadaptada a partir da mesma cepa parental,
FGA/89), mapeiam nos mesmos domínios, sugerindo um papel potencial dessas
proteínas na aquisição do fenótipo de neurovirulência do DENV-1 em camundongos.
Com o intuito de confirmar o envolvimento dessas mutações, um isolado clínico
recente (BR/01-MR) foi submetido ao mesmo processo de neuroadaptação. Embora
a variante MR/NA P7 tenha se mostrado mais neurovirulenta do que a variante
FGA/NA P6, ocasionando danos severos no SNC de camundongos, caracterizados
por leptomeningite e necrose de substância branca, não foi possível identificar a
presença de partículas infecciosas nem do RNA viral em cada uma das passagens
do vírus. No entanto, através de ensaios microscopia eletrônica e imunocitoquímica
de secções do SNC de camundongos foi possível observar tanto a presença de
partículas virais como das proteínas E e NS1, sugerindo que os danos no SNC dos
camundongos infectados foi uma conseqüência direta da infecção pelo vírus. Os
resultados obtidos neste trabalho permitiram demonstrar a implicação das proteínas
E e NS3 no processo de neurovirulência do vírus FGA/NA 89 e que as variantes
neuroadaptadas apresentam a capacidade de infectar as células do SNC de
camundongos neonatos e ocasionar danos extensivos nos tecidos como
leptomeningite e encefalite. Um maior conhecimento sobre os mecanismos
envolvidos na patogênese da dengue poderá contribuir para o delineamento de
estratégias antivirais direcionadas e eventualmente o controle da infecção. Dengue virus (DENV), a member of the Flavivirus genus (family Flaviviridae), is an
arthropod-borne virus that cause severe disease in humans. The spectrum of illness
ranges from a self-limiting fever (DF) to dengue hemorrhagic fever (DHF), which can
progress to dengue shock syndrome and death. More recently, the clinical
presentation of DENV infection is changing and a significant increase of cases with
neurological manifestations has been documented. The precise mechanim(s) by
which DEN viruses cause severe disease is still not understood. It has been inferred
that both immunological and viral factors determine the severity of disease. The lack
of an animal model that reflects the severe forms of the disease is an obstacle to
study some aspects of dengue pathogenesis. The central nervous system (CNS) of
newborn mice has been used as a model system to study the pathophysiology of
dengue disease. To confirm and to define the involvement of the amino acid
substitutions in the viral genome that could be related to the acquisition of DENV
neurovirulent phenotype for mice, we adapted a strains of dengue virus type 1,
FGA/89, in CNS of newborn Swiss mice. The capacity of the neuroadapted variants
to replicate in CNS and to cause encephalitis was analyzed. One amino acid
mutation in the envelope E protein and two amino acid mutations in the nonstructural
NS3 protein were observed during the neuroadaptation process of FGA/89. These
mutations were first identified in FGA/NA P3 and fixed until the sixth passage. The
substitutions E Phe402/Leu and NS3 Leu480/Ser identified in FGA/NA P3-P6, although
not identical to those observed in FGA/NA d1d (another neuroadapted variant from
the same parental strain, FGA/89), mapped to the same domain, suggesting a
potential role of these proteins in the acquisition of DENV mice neurovirulent
phenotype. Aiming to confirm the involvement of these mutations in dengue
neurovirulence, a recent clinical isolate (BR/01-MR) was submitted to the same
protocol of neuroadaptation. The neurovirulent variant MR/NA P7 was more
neurovirulent for newborn Swiss mice, compared to FGA/NA P6 variant, causing
severe damage in CNS of mice, characterized by leptomeningitis and necrosis of
white matter. Despite of all these findings, it was not possible to identify neither the
presence of viral infectious particle nor the presence of the viral RNA in all the
passages of the virus in mice brains. However, by electron microscopy and immune
electron microscopy assays it was possible to observe the presence of viral particles
and viral proteins E and NS1 in the sections of the CNS of mice, suggesting that the
damage observed in the CNS was a direct result of virus infection. Results obtained
in this work demonstrate the implication of the proteins E and NS3 in the process of
neuroadaption of the virus FGA/89 and that the neurovirulent variants have the ability
to infect CNS of newborn mice causing extensive tissue damage as leptomeningitis
and encephalitis. A better knowledge about molecular markers and mechanisms that
could be involved in the dengue pathogenesis would be useful for developing new
targets to antiviral strategies and eventually control of infection.
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