Análise comparativa da fauna associada às linhas de detritos em duas praias estuarinas da Ilha do Mel (Paraná, Brasil)
Resumo
Algumas praias arenosas apresentam baixa produção primária e logo, dependem do acúmulo de detrito como fonte externa de energia. As praias dentro de estuários apresentam um grande acúmulo de detrito orgânico de diferentes origens. Neste detrito se desenvolve uma fauna que o utiliza como fonte de alimento e proteção à dessecação. O objetivo deste trabalho foi estudar a relação existente entre a quantidade e composição do detrito e a fauna que se desenvolve nas proximidades do mesmo. As coletas foram realizadas em maré de sizígia e quadratura no inverno e no verão, utilizando-se um cilindro de 13 cm de diâmetro interno e 20 cm de altura, nas praias de Brasília e Coroazinha. Os pontos de coleta foram distribuídos em função das linhas de detrito existentes no momento da amostragem, e todas as linhas foram amostradas em três blocos de um metro de comprimento distantes cinco metros entre si. As praias de Brasília e Coroazinha, na Ilha do Mel, diferiram drasticamente quanto à composição desse detrito. Em Brasília a alga Acanthophora spicifera dominou o detrito e em Coroazinha os fragmentos de vegetal superior. A massa total de detrito seco amostrado nas linhas teve menor média de 95,51 g/m2 e maior média de 650,23 g/m2. Quanto ao teor de umidade do sedimento, a menor média foi de 3,21% e a maior média de 17,28%. Análises de variância mostraram que tanto para as quantidades dos dois tipos detrito quanto para a umidade do sedimento houve variação significativa entre os estratos, as praias, as marés e as estações do ano. A fauna amostrada neste trabalho esteve composta pelas seguintes espécies: Talorchestia tucurauna, Platorchestia monodi, Atlantorchestoidea brasiliensis, Bathyporeiapus ruffoi, Metamysidopsis neritica, Excirolana armata, Tholozodium rhombofrontalis, Bledius bonariensis, B. fernandezi e B. sp.1.
Análises de escalonamento multidimensional não métrico, juntamente com análises de similaridade e redundância mostraram que há uma fauna associada à linha de detrito em ambas as praias, constituída por duas espécies de Talitridae, Talorchestia tucurauna e Platorchestia monodi, provavelmente porque o detrito é fonte de alimento e proteção. As densidades de ambas foram muito maiores na praia de Brasília devido ao maior aporte de alga no detrito. As variações temporais
causaram interferências sobre a fauna do detrito, até mesmo através da quantidade de alga depositada no mesmo que é maior durante o inverno e na maré de sizígia. Algumas espécies encontradas não dependeram da linha de detrito, tais como os Isopoda Excirolana armata e Tholozodium rhombofrontalis, que se apresentaram muito mais relacionados diretamente ao teor de umidade do sedimento, ao contrário das três espécies de Bledius que tiveram relação inversa com a umidade. Outras espécies como M. neritica e B. ruffoi não caracterizaram uma fauna de supralitoral e provavelmente chegaram até lá arrastados pela maré ou com o detrito, ou se apresentaram em densidade e freqüência muito pequenas para que se conclua algo, como é o caso do Amphipoda Talitridae Atlantorchestoidea brasiliensis. As três espécies de Coleoptera Staphylinidae do gênero Bledius, tiveram relação inversa com a umidade do sedimento e localizam se na região mais superior e seca da praia.
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