Saberes populares de plantas medicinais : um grito inaudível?
Resumo
Resumo : Atualmente o paradigma da produção de saúde é permeado por diversos fatores atrelados aos interesses mercantis que assegura a conservação do modelo biomédico cujo reconhece unicamente saberes produzido cientificamente, determinando concepções acerca do corpo como máquina, individual, biológico, universal e atemporal. Porém mesmo sejam deslegitimados pela hegemonia científica os saberes não institucionais, como os saberes populares de plantas medicinais, estes são significativos nas práticas cotidianas dos indivíduos. Estima-se que atualmente 70 a 90% da população prefere o uso de plantas medicinais, uma vez que a tradição, a cultura e as práticas simbólicas, representam parte indissociável da construção da identidade do indivíduo. Desta maneira, o objetivo deste trabalho se fundou em identificar a percepção de mulheres frente à visibilidade social de saberes populares relacionados ao uso de plantas medicinais no processo de saúde-doença. Para isso, entrevistas semiestruturadas foram agendadas e realizadas em visitas domiciliares com cada participante, frequentadora do Grupo da Horta na Unidade Básica de Saúde (UBS). As falas foram transcritas e analisadas à luz da Análise de Discurso (AD), abordagem francesa. Como algumas reflexões surgidas através dos discursos produzidos, estão nas estruturas sociais em que se desenvolvem o uso comunitário de plantas medicinais, fundada em distintas opressões na relação com poder biomédico subsidiado pela formalidade de ensino, por questões étnicas-raciais, de gênero, como também pelo atual modo de produção. Simbologias, historicidade, culturalidades, comunidade, valores que representam a constituição de sujeitos são exauridos no limiar da anulação da identidade v nas relações com os trabalhadores de saúde, permanecendo o silêncio. Sendo estas relações justificadas pela segurança e qualidade do modo de cuidado institucional ofertado, são reproduzidos os valores da ciência hegemônica entre a comunidade, favorecendo a manutenção da invalidação dos saberes populares. Logo, retoma-se a necessidade de mudança dos atuais mecanismos hegemônicos que operam para inferiorização e objetificação do outro, como o movimento do saber formal sob o informal, na qual possibilita as expressões dos sujeitos do processo. Claramente que para existir as intersubjetividades nestas relações, a objetificação do trabalho e do produto precisam ser ressignificados mesmo que seja através da superação do atual modo de produção, já que a relação entre sujeitos do processo dentro deste modelo biomédico está pautada na doutrinação de corpos. Como etapa inicial está o processo de conscientização, trazendo questionamentos para compreensão do motivo da reprodutibilidade de discursos e práticas que estão isentadas de uma observação reflexiva da realidade, convergindo em percepções críticas sobre os sujeitos, de posições sociais ocupadas, de processos, de contextos, de classe.