Paranaguá e as epidemias, entre o império e a república : determinações governamentais, ações médicas, educação da população (1889-1908)

Abstract

Resumo: Esta tese tem como objetivo entender como ações educativas fizeram parte das medidas que tentaram impedir a difusão de doenças epidêmicas na cidade portuária de Paranaguá (porto sob administração do governo central), entre o período imperial e os primeiros tempos da República. Destacando indícios sobre como instruções e determinações médico-governamentais foram resultando em um processo educativo relativo à saúde, este trabalho evidencia como a paulatina difusão do uso do laboratório pela medicina nacional, também concorreu para alterações na educação da população sobre a doença epidêmica. O referencial teórico-metodológico deste estudo foram estudos de Edward Palmer Thompson (1987; 1998), sobre as experiências de pessoas que, vivendo em uma determinada época e espaço sociocultural, têm valores compartilhados (o costume), refeitos no cotidiano e, portanto, atualizados com a reordenação ou rejeição do que é vivido (inclusive determinações legais). O trabalho foi realizado a partir de questionamentos suscitados por uma revolta que aconteceu em Paranaguá em fevereiro de 1889, solicitando o retorno da "quarentena de observação" no porto da cidade ameaçado pela febre amarela. Discussões sobre ameaças epidêmicas prévias (inclusive com abordagem da legislação portuária federal) indicaram como o processo de combate à doença foi pontuado por ações educativas, algo que possibilitou um entendimento alargado da referida revolta. Exemplo singular de educação popular para a saúde e manipulação de determinação legal, a revolta de 1889 torna possível perceber como médicos, autoridades governamentais e pessoas locais foram enfrentando as ameaças epidêmicas também nos primeiros anos da República. Período pautado pela diversificação dessa educação, à medida que a medicina laboratorial ganhou ênfase. Nesse sentido, as considerações apresentadas durante a ameaça de peste bubônica de 1908, evidenciaram um processo educativo em saúde, pois combinavam prescrições higiênicas e para a salubridade, com informações sobre microrganismos e relativas às peculiaridades da moléstia (um processo já pontuado quando das considerações divulgadas sobre Stegomya fasciata em 1904 e sobre a produção da vacina antivariólica em 1908). Para a realização desta tese, foram utilizados documentos oficiais e legislativos de Paranaguá, do Paraná e do governo nacional, anais de conferências internacionais, livros sobre a cidade portuária e relativos à saúde no período, coleções de jornais diários que circulavam em Paranaguá e em Curitiba, capital paranaense, além de excertos da imprensa do estado de São Paulo e da cidade do Rio de Janeiro

Abstract: This thesis aims to understand how educational actions were part of the measures that attempted to prevent the spread of epidemic diseases in the port city of Paranaguá (a port under central government administration) between the imperial period and the early days of the Republic. Highlighting evidence on how medical-governamental instructions and determinations resulted in the educational process related to health, this work shows how the gradual work shows how the gradual spread of the use of laboratories by national medicine also contributed to changes in the education of the population about epidemic diseases. The theoretical-methodological framework for this study was studies by Edward Palmer Thompson (1987;1998) on the experiences of people Who, living in a certain time and sociocultural space, have shared values (customs), remade in everyday life and, therefore, updated with the reordering or rejection of what is experienced (including legal determinations). The work was carried out based on questions raised by a revolt that occurred in Paranaguá in february 1889, requesting the return of the "observation quarantine" in the port of the city threatened by yellow fever. Discussions about previous epidemic threats (including addressing federal port legislation) indicated how the process of combating the disease was punctuated by educational actions, something that enabled a broader understanding of the aforementioned revolt. A unique example of popular health education and the manipulation of legal provisions, the 1889 revolt makes it possible to see how doctors, government authorities and local people were also confronting epidemic threats in the early years of the Republic. This period was marked by the diversification of this education, as laboratory medicine gained emphasis. In this sense, the considerations presented during the threat of bubonic plague in 1908 demonstrated na educational process in health, as they combined hygiene and health prescriptions with information about microrganisms and the peculiarities of the disease (a process already highlighted in the considerations published about Stegomya fasciata in 1904 and about the production of the smallpox vaccine in 1908). To carry out this thesis, official and legislative documents from Paranaguá, Paraná and the national government, annals of international conferences, books about the port city and related to health in the period, collections of daily newspapers that circulated in Paranaguá and in Curitiba, the capital of Paraná, as well as excerpts from the press of the state of São Paulo and the city of Rio de Janeiro were used