Machado de Assis no século XXI : aspectos da paródia em Homem de Papel, de João Almino

Abstract

Resumo: Machado de Assis (1839-1908) mantém-se como uma figura proeminente entre leitores e escritores da literatura brasileira. O autor carioca preserva sua relevância na contemporaneidade não apenas por suas obras atemporais, mas também pelo contínuo resgate e ressignificação de sua produção literária e aspectos de sua vida pessoal. Suas obras são frequentemente reinterpretadas em outras narrativas, muitas vezes por meio da paródia. Um exemplo notável é o romance Homem de papel (2022), do escritor potiguar João Almino (1950), que resgata o conselheiro Aires das páginas de Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), transportando-o para vivenciar as nuances do século XXI. Este trabalho busca analisar o referido romance, com atenção à subversão paródica a partir de três vertentes: I) fatores histórico-políticos; II) ressignificação do personagem principal, Aires; III) e a ressignificação do feminino na obra, expressa pela personagem Flor. O exame da subversão histórico-política é realizado mediante análise comparativa entre as obras machadianas em que Aires é personagem, a saber, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, focando nos elementos que aproximam ou distanciam o texto de João Almino da perspectiva paródica. Neste contexto, a investigação concentra-se na análise dos eventos históricos vivenciados por Aires no século XIX, enquanto personagem das narrativas machadianas, e no presente, enquanto narrador e personagem de Homem de papel. Além disso, examina-se o resgate do movimento Verde-Amarelo (1926), evidenciando a subversão da cena política contemporânea ao comparar elementos fascistas e ideais nacionalistas presentes nas discussões políticas do século XXI. Ao proceder à análise do personagem principal, Aires, o objetivo é investigar os possíveis traços paródicos emergentes da representação do conselheiro no século XXI, enquanto personagem da narrativa de João Almino, comparando-o com sua personalidade do século XIX, conforme representada por Machado de Assis. Dessa forma, analisa-se como João Almino preserva ou subverte as características inerentes ao personagem principal das duas últimas narrativas machadianas. Por fim, a análise do feminino na obra é desenvolvida a partir da personagem Flor, estabelecendo um paralelo com figuras femininas machadianas, especialmente Flora, de Esaú e Jacó, e Fidélia, de Memorial de Aires. Como aporte teórico deste trabalho, recorremos principalmente às considerações de Linda Hutcheon, em suas obras Uma teoria da paródia (1985) e Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção (1991). Em suma, pretendemos demonstrar, através da análise das temáticas destacadas, em que medida Homem de papel é uma expressão paródica da obra machadiana, em especial dos últimos romances do escritor carioca. A interpretação textual objetiva lançar luz sobre os momentos em que os elementos destacados tomam forma e revelam sentidos abrangentes o suficiente para atuarem ou não como estilo paródico

Abstract: Machado de Assis (1839-1908) remains a prominent figure among readers and writers of Brazilian literature. The Rio de Janeiro author preserves his relevance in contemporary times not only for his timeless works, but also for the continuous rescue and resignification of his literary production and aspects of his personal life. His works are often reinterpreted in other narratives, often through parody. A notable example is the novel Homem de papel (2022), by the writer João Almino (1950), which rescues the counselor Aires from the pages of Esaú e Jacó (1904) and Memorial de Aires (1908), transporting him to experience the nuances of the twenty-first century. This work seeks to analyze the aforementioned novel, with attention to parodic subversion from three perspectives: I) historical-political factors; II) resignification of the main character, Aires; III) and the resignification of the feminine in the work, expressed by the character Flor. The examination of historical-political subversion is carried out through a comparative analysis between the works of Machado in which Aires is a character, namely, Esaú e Jacó and Memorial de Aires, focusing on the elements that bring João Almino's text closer or further from the parodic perspective. In this context, the research focuses on the analysis of the historical events experienced by Aires in the nineteenth century, as a character in Machado's narratives, and in the present, as the narrator and character of Homem de papel. In addition, the rescue of the movement Verde-amarelo (1926) is examined, evidencing the subversion of the contemporary political scene by comparing fascist elements and nationalist ideals present in the political discussions of the twenty-first century. By proceeding to the analysis of the main character, Aires, the objective is to investigate the possible parodic traits emerging from the representation of the counselor in the twenty-first century, as a character in João Almino's narrative, comparing him with his nineteenth-century personality, as represented by Machado de Assis. In this way, it is analyzed how João Almino preserves or subverts the characteristics inherent to the main character of the last two Machado narratives. Finally, the analysis of the feminine in the work is developed from the character Flor, establishing a parallel with female figures from Machado, especially Flora, from Esaú e Jacó, and Fidélia, from Memorial de Aires. As a theoretical contribution of this work, we resort mainly to the considerations of Linda Hutcheon, in her works A theory of parody (1985) and A poetics of postmodernism: History, theory, fiction (1991). In short, we intend to demonstrate, through the analysis of the highlighted themes, to what extent Homem de papel is a parodic expression of Machado's work, especially the last novels of the writer from Rio de Janeiro. Textual interpretation aims to shed light on the moments in which the highlighted elements take shape and reveal meanings comprehensive enough to act or not as a parodic style