Variação espaço-temporal da macro e meiofauna bênticas localizadas sob um cultivo de ostras na Baía de Guaratuba, Paraná - Brasil

Abstract

A maricultura é uma atividade em crescente expansão no Brasil e no mundo. A ausência de trabalhos de monitoramento ambiental põe em risco o sucesso e expansão do cultivo de organismos marinhos O cultivo extensivo de ostras exerce algumas vantagens sobre as demais modalidades por ser de fácil implementação e manejo, e podem produzir impactos positivos (aumento da biodiversidade) ou negativos (como aumento de gás sulfidrico no compartimento bêntico devido ao aporte de material orgânico) se a capacidade sustentável do local não for respeitada Os organismos bênticos têm sido largamente utilizados como indicadores da saúde dos ecossistemas. Macro e meiofauna bêntica atuam de maneira distinta sobre o meio: dai a importância da avaliação de ambos os compartimentos em estudos de caracterização do ambiente. Entretanto, no Estado do Paraná são escassas as informações científicas a respeito da influência da maricultura sobre o meio ambiente. O objetivo deste estudo foi estabelecer, entre janeiro e novembro de 2005, os padrões de ocorrência e distribuição espaço temporal da fauna bêntica localizada sob um cultivo de ostras num canal de maré na Bala de Guaratuba, Paraná - Brasil. Foram realizadas coletas sazonais em três pontos de coleta C1 (próximo à jusante do canal), C2 (proximo a montante do canal) e T (sob o cultivo) No ponto T foram tomados os valores de salinidade, temperatura, transparência da água e amostras para o cálculo das concentrações oxigênio dissolvido e CO2 Em todos os pontos foram coletadas: 5 amostras para análise da macrofauna; 1 para teores sedimentológicos, matéria orgânica e CaCO3; e 2 para análise do meiobentos. Os resultados dos parámetros abióticos, quando comparados a outros estudos de setores externos do litoral do Paraná, indicam a qualidade da água como mediana. O sedimento teve predominância de areia média pobremente selecionada Foi coletado um total de 279 organismos macrofaunais, sendo Polichaeta e Bivalvia grupos com as maiores frquências (60,89% e 31,57% respectivamente) e 4448 da meiofauna, sendo Nematoda o grupo mais abundante (56,14%). O cultivo de ostras não atua como incrementador de matéria orgânica e carbonato de cálcio (CaCO3) a ponto de modificar as caracteristicas do sedimento. Entretanto, o número de organismos macrofaunais encontrados nesta pesquisa foi baixo, quando comparado com estudos de avaliação da fauna bêntica em ambientes similares. A avaliação dos grupos tróficos meiofaunais indicou que a estrutura de cultivo pode estar afetando a disponibilidade de alimento aos organismos epibentófagos. Comedores de depósito podem estar sendo favorecidos pelo incremento de matéria orgânica, e predadores/omnívoros apresentaram maior sucesso reprodutivo em virtude da disponibilidade de alimento por todo o período.

Os resultados deste trabalho tomam evidente a iminente necessidade de estudos de monitoramento ambiental, a longo prazo, para avaliar o desenvolvimento da malacocultura e inferir se a atividade está caminhando ou não para a extrapolação da sua capacidade suporte, caso este que levará invariavelmente a um colapso da produção.