Narrativas de uma professora negra sobre a educação antirracista e as pedagogias do teatro na educação básica

Abstract

Resumo: Nesta dissertação, eu mulher negra, professora e pesquisadora, apresentei uma narrativa autobiográfica com o objetivo de analisar quais percepções e reflexões sobre o racismo e a educação antirracista foram evidenciadas em minha história de vida e formação e como isso impactou minha prática pedagógica. Para alcançar este intento, foi discutida a minha trajetória de vida e profissão, com ênfase na pedagogia do teatro aliada a uma educação para as relações étnico-raciais, envolvendo minha atuação na disciplina de arte em uma Escola da Rede Municipal de Curitiba/PR, anos iniciais do Ensino Fundamental, com as faixas etárias de 09 e 10 anos e no Centro Municipal de Educação Cultural-CMEC, em Araucária, com estudantes dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio, com faixa etária de 10 a 16 anos. Para tanto, na problemática da pesquisa permeiam três questões: 1) Quais percepções e reflexões sobre o racismo e educação antirracista foram evidenciadas em minha história de vida e formação como professora?; 2) Como isso se refletiu no trabalho em sala de aula e no projeto de teatro, com o teatro e o drama, em turmas com crianças do projeto de teatro do Ensino Fundamental l de Curitiba, da mesma escola e em contraturno escolar e um grupo de teatro composto por estudantes dos Ensinos Fundamental l, ll e Médio em Araucária, provenientes de diferentes escolas, em contraturno escolar; 3) Quais as percepções e reflexões que as aulas de teatro com foco na educação antirracista despertaram nos estudantes?. Em busca dessas respostas adoto como principal base teórica as referências para a educação antirracista de Lélia Gonzalez (1988, 2018, 2020), Nilma Lino Gomes (2005,2019) e Lucimar Rosa Dias (2005, 2019). O aporte metodológico utilizado para análise do percurso autobiográfico usou duas diferentes abordagens: narrativas autobiográficas, tendo como referência Elizeu Clementino de Souza (2004,2006, 2011), e autoetnografia com os autores: Pedro Mourão Roxo da Motta Nelson, Filice de Barros (2015); Fabiano Bossle e Vicente Molina Neto (2009) e Alfonso Benetti (2017), cujos procedimentos que envolvem a narrativa autobiográfica do pesquisador proporcionaram reflexões sobre minha história de vida e profissão aliada ao meu processo de formação e autoformação. Em relação à pedagogia do teatro, o projeto Vida em Cena apropriou técnicas de quatro métodos, a saber: da estética do oprimido de Augusto Boal (1991,1993, 2009); de jogos de improvisação por Olga Reverbel (1993); do drama em suas diferentes proposições por Beatriz Ângela Vieira Cabral (2006) e Flávio Desgranges (2017). O estudo permitiu analisar as marcas do racismo presentes em minha história de vida e como se deu o acesso à minha identidade negra, bem como o reflexo dessa história em minha formação profissional e atuação como professora. Na prática realizada, uma proposta teatral antirracista que foi apresentada para a comunidade escolar e também no I Seminário do ErêYá da UFPR, evidenciou-se as questões de racismo vivenciadas na escola e no ambiente familiar pelos/as estudantes, assim como o impacto destas situações na autoestima dos/as estudantes negros/as. Também verificou-se que por meio da pedagogia do teatro e de uma proposta de educação antirracista é possível uma afirmação da negritude, possibilitando aos/às estudantes a sua autoidentificação enquanto negro/a.

Abstract: In this thesis, I, a black woman, teacher and researcher, presented an autobiographical narrative with the objective of analyzing which perceptions and reflections on racism and anti-racist education were highlighted in the history of my life and my formation and how that has impacted my pedagogical practice. In order to achieve this goal, my life and profession trajectory were discussed, with emphasis on theater pedagogy combined with an education for ethnic-racial relations, involving my performance in the school subject Arts in a Municipal School in Curitiba/PR, first years of Elementary School, with students aged 09 and 10 and in the Municipal Center of Cultural Education-CMEC, in Araucária/PR, with students of Elementary School and 1st year of High School, aged 10 to 16. Therefore, three questions permeate the research problem: 1) What perceptions and reflections on racism and anti-racist education were evidenced in my life history and training as a teacher?; 2) How has it reflected in the work in the classroom and in the theater project, with theater and drama, in groups with children from the theater project of Elementary School l in Curitiba, from the same school and in after school program and a group theater composed by students from Elementary Schools l, ll and High School in Araucária, who came from different schools, in an after school program; 3) What are the perceptions and reflections that theater classes with a focus on anti-racist education have awakened in students?. In the search for these answers, I adopt as the main theoretical basis the references to the anti-racist education of Lélia Gonzalez (1988, 2018, 2020), Nilma Lino Gomes (2005, 2019) and Lucimar Rosa Dias (2005, 2019). The methodological contribution used to analyze the autobiographical path used two different approaches: autobiographical narratives, with reference on Elizeu Clementino de Souza (2004, 2006, 2011), and autoethnography with the authors: Pedro Mourão Roxo da Motta Nelson, Filice de Barros (2015 ); Fabiano Bossle and Vicente Molina Neto (2009) and Alfonso Benetti (2017), whose procedures involving the researcher's autobiographical narrative provided reflections on the history of my life and profession allied to my training and self-training process. In relation to theater pedagogy, the Vida em Cena project appropriated techniques from four methods, namely: the aesthetics of the oppressed by Augusto Boal (1991, 1993, 2009); from improvisation games by Olga Reverbel (1993); of drama in its different propositions by Beatriz Ângela Vieira Cabral (2006) and Flávio Desgranges (2017). The study allowed me to analyze the marks of racism present in my life story and how I had access to my black identity, as well as the reflection of this history in my professional training and performance as a teacher. In the practice carried out, an antiracist theatrical proposal which was presented to the school community and also at the 1st Seminar of ErêYá at UFPR, it was highlighted the issues of racism experienced at school and in the family environment by students, as well as the impact of these situations in the self-esteem of black students. It was also found that through theater pedagogy and an antiracist education proposal, an affirmation of blackness is possible, enabling students to self-identify themselves as black.