dc.description.abstract | Resumo: Como entender a reprodução da agricultura familiar tendo em vista os bloqueios impostos ao seu desenvolvimento em geral além das restrições de uso dos recursos naturais numa Área de Proteção Ambiental (APA)? Esta pesquisa, realizada em Rio Verde, uma das comunidades rurais do município de Guaraqueçaba - litoral norte do Estado do Paraná -, tem por objetivo identificar estratégias de reprodução de agricultores familiares, em especial aquelas ligadas ao acesso à terra, ao alimento e ao trabalho. As fontes utilizadas referem-se tanto aos dados da enquete realizada em 2000 pelo Programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR / CNRS), como pela abordagem qualitativa dos agricultores através da combinação de diferentes métodos: entrevistas semiestruturadas, observação, recordatório alimentar, genealogia. A prática (BOURDIEU, 1996) destes agricultores familiares (WANDERLEY, 1996; FERREIRA, 2002; ZANONI 2000; LAMARCHE 1997, 1998), face aos bloqueios que lhe são impostos, revelam estratégias (BOURDIEU, 1986) que têm adaptado seu patrimônio sociocultural (LAMARCHE, 1997) para garantir a reprodução de aspectos do seu modo de vida (ANTÔNIO CÂNDIDO, 1979, BRANDEMBURG, 1999) numa Área de Preservação Ambiental. No interior desta o uso da terra é restrito, além de historicamente já comprometido pelas grandes fazendas que circundam a comunidade. Por conseqüência, a produção para a subsistência da família tem diminuído. Assim, para garantir o acesso ao alimento, os agricultores produzem, compram e partilham alimentos. Esta partilha ocorre no interior de redes sociais, tal como a mobilização de trabalho. O volume deste vem sendo reduzido em função da diminuição das áreas legalmente utilizáveis. Apesar disso, observou-se que, como sugere CHAYANOV (1966), quando o ciclo biológico da família implica na ocorrência de mais consumidores que trabalhadores, identifica-se uma situação de déficit de mão de obra, portanto, é necessário mobilizar trabalho. Preferencialmente mobilizado dentro de redes, as relações de trabalho mais comuns são a troca de dia, trabalho divido e camaradas pagos em alimento ou dinheiro. Antigamente realizavam-se mais mutirões, quando eram necessárias grandes roçadas ou colheitas. Hoje proibidas, a relação de trabalho mais comum é a contratação de camaradas, principalmente para a produção de banana. As famílias que fazem parte da rede de comercialização de banana orgânica são as que possuem melhores níveis de vida, no entanto, esta situação gera conflitos com o grupo de famílias que ainda não está inserido. A princípio causadores de rupturas, percebeu-se que estes conflitos são parcialmente incorporados em momentos de sociabilidade, o que tem mantido assim a vida comunitária. Esta sociabilidade, as relações de trabalho, a lógica familiar de acesso à terra, a produção para a subsistência e a importância de seu patrimônio sociocultural foram características atribuídas à agricultura familiar camponesa. No entanto, a forma de integração ao mercado da banana orgânica parece indicar uma tendência a ser estudada em Rio Verde: a emergência de características atribuídas à agricultura familiar moderna. | pt_BR |