Violência sexual facilitada por drogas : caracterização e experiências de mulheres atendidas em um hospital especializado do Paraná

Abstract

Resumo: A violência sexual, enquanto crime facilitado por substâncias químicas, denomina-se Violência Sexual Facilitada por Drogas ou em inglês, Drug-Facilitated Sexual Assault (DFSA). Emergiram as seguintes perguntas de pesquisa: qual é o perfil das mulheres que sofreram violência sexual facilitadas por drogas, atendidas em um hospital especializado? Qual a experiência de mulheres que vivenciaram a violência sexual facilitada por drogas? Teve-se como objetivos: caracterizar as mulheres que sofreram DFSA, atendidas em um hospital especializado do Paraná, entre os anos de 2010 e 2019; e conhecer a percepção de mulheres atendidas em um hospital especializado do Paraná sobre a experiência da DFSA. Trata-se de uma pesquisa com duas abordagens metodológicas. O primeiro objetivo utilizou a abordagem quantitativa, descritiva e transversal, com utilização de 342 dados da ficha de notificação individual. O segundo objetivo recebeu abordagem qualitativa, por entrevistas com 18 mulheres que sofreram DFSA, e os dados foram analisados mediante análise temática por Bardin, com apoio do software webQDA. Assim, emergiram três categorias: Contexto em que a DFSA ocorreu; A busca por ajuda após a DFSA; e Dificuldades e estratégias de enfrentamento após a vivência da DFSA. Identificaram-se 342 notificações de DFSA entre 18 e 62 anos, concentrando 53,3% entre 20 e 29 anos; 75% brancas; 28% ensino médio completo e 26% superior completo; 39% trabalhadoras, 22% estudantes e 74,8% solteiras. A DFSA ocorreu 62% no final de semana; 47% na madrugada; 38% em residências e 27% em via pública. No hospital especializado, 82% receberam profilaxias para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST);79% imunização para hepatite B; 74% anticoncepção de emergência; e 65% denunciaram com coleta de vestígios. Nas entrevistas, o álcool foi a substância química mais relatada e houve suspeita de adição de drogas secretamente nas bebidas. A DFSA ocorreu em ambientes de descontração, acompanhadas por conhecidos, com perda de consciência e acordaram após a DFSA nas festas ou residências. A DFSA causou sentimentos negativos de medo, vergonha e culpa associados ao consumo de álcool. Procuraram por apoio informal e por apoio formal para diminuir consequências na saúde mental e física. O medo de contrair IST foi motivante para buscar ajuda e houve desconhecimento e barreiras no acesso à rede intersetorial e hospital especializado. No primeiro contato com o hospital especializado, a experiência evidenciou-se positiva e destacaram a assistência da enfermagem. Constataram-se dificuldades em superar o vivido com isolamento e fobia social e reconheceram a necessidade de terapia. O apoio informal, relacionamento afetivo-sexual, convívio social, trabalho e estudos foram estratégias de enfrentamento para superar a DFSA. Evidenciou-se o desconhecimento da rede intersetorial pelas mulheres e por parte dos profissionais consultados. Destacou-se a falta de adesão ao seguimento ambulatorial, pois desejavam esquecer a DFSA e buscaram assistência em outros serviços. Reconheceram que ao falar da DFSA colaborou com a recuperação, que pode levar à conscientização e ajudar outras mulheres. Ao se aprofundar sobre a DFSA, concluise que os profissionais e a enfermagem necessitam de uma postura livre de préjulgamentos, proporcionar conforto e apoio emocional para a recuperação dessas mulheres.

Abstract: Sexual abuse while perpetrated under the effect of chemical substances is called Drug-Facilitated Sexual Assault (DFSA). The following research questions evolved: What is the profile of women who suffered drug-facilitated sexual assault? What is the experience of women who lived drug-facilitated sexual assault? It objectified: to profile women who underwent DFSA, assisted at a reference hospital in Paraná State, Brazil, between 2010 and 2019; to apprehend the perception of women assisted at a reference hospital in Paraná State on their lived experience of DFSA. It is a research study which made use of two methodological approaches. The first objective used a crosscut, descriptive and quantitative approach by means of 342 data from the individual report form. The second objective used a qualitative approach, by means of interviews with 18 women who underwent DFSA, and data were analyzed under Bardin’s thematic analysis, supported by the webQDA software. Thus, three categories emerged: Context where the DFSA took place; The search for help after the DFSA; and Difficulties and coping strategies after undergoing the DFSA.342 DFSA reports were identified between 18 and 62 years, prevalence of 53.3% between 20 and 29 years; 75% were Caucasian; 28% were high-school graduates, and 26% were higher-education graduates; 39% worked, 22% were students and 74.8% were single. For 62%, the DFSA occurred during the weekend; 47% during the early hours of morning; 38% at residences, and 27% in public settings. In the reference hospital, 82% took medication for Sexually Transmitted Diseases (STDs), 79% took hepatitis B vaccine; 74%, emergency contraceptives; and 65% reported the DFSA and biological collection was conducted. In the interviews, alcohol was the most reported chemical substance, and suspicion of secretly administered drugs in their drinks. The DFSA occurred in relaxing environments, among acquaintances, losing their conscience and recovering it after the DFSA in parties or residences. The DFSA caused negative feelings of fear, shame and guilt, associated with alcohol ingestion. They searched for formal and informal support in order to reduce the outcomes for their mental and physical health. Their fear of getting STDs made them turn to help, and there was lack of knowledge and barriers to access the intersectoral network and reference hospital. The first contact with the reference hospital evolved in a positive experience, and nursing care stood out. Difficulties were evidenced to overcome what they had experienced, unfolding social withdrawal and phobia, thus, recognizing that they needed psychological therapy. The informal support, sexual-affective relationships, social interaction, work and studies were coping strategies to get over the DFSA. The lack of knowledge about the intersectoral network by the women and the consulted professionals was evidenced. Lack of adherence to outpatient follow-up stood out because they wanted to forget the DFSA and searched other services for support. They recognized that talking about the DFSA helped their recovery, which may lead to awareness and help other women. Going deeper into the DFSA, it was concluded that professionals and nursing professionals require a non-judgemental attitude, providing comfort and emotional support for the women’s recovery.