O regionalismo da Belle Époque : discursos, tipos e transformações socioeconômicas
Date
2021Author
Vazquez, Gustavo Krieger, 1980-
Metadata
Show full item recordSubject
Regionalismo na literaturaLiteratura brasileira - História e crítica
Contos brasileiros
Materialismo histórico
Letras
xmlui.dri2xhtml.METS-1.0.item-type
Dissertação DigitalAbstract
Resumo: Um dos recursos utilizados no regionalismo, literatura transcultural, para unir o mundo rural ao mundo urbano, do qual fazem parte seus autores e grande parte dos leitores, é o discurso das personagens, que possui três formas principais: a norma culta (narrador e personagens falando de acordo com as normas gramaticais vigentes); a transcrição ortográfica (as falas das personagens são transcritas por aproximação da forma como as palavras são pronunciadas, com sotaques, desvios da norma padrão, coloquialismos); e o estilo castiço (narrador e personagens falando da mesma maneira, mas com uma construção particular que une o coloquialismo e as peculiaridades da oralidade com a norma gramatical). Considerando o fim do Império e a Belle Époque, encontramos três relações sociais entre o mundo urbano e o mundo rural que, alternando em relevância, nunca deixaram de existir como componentes da nossa complexa sociedade: um desejo por uma visão global de ambos os mundos; o de uma distância intransponível entre a evolução urbana e o atraso rural; o de um sertão producente, independente. Nesta dissertação, uma de nossas teses é de que cada um dos três tipos de discurso foi uma ferramenta criada para dar conta de uma dessas posições do mundo urbano em relação ao mundo rural, tendo surgido quando certo momento viu-se em relevância maior em relação aos outros. Comprovaremos isso através de análises de contos brasileiros do fim do século XIX e início do século XX, fundamentando o estudo com uma base histórica e também filosófica - o materialismo histórico de Karl Marx. Em seguida, focando em tipos comuns ao regionalismo (os agregados, os criminosos e os apartados), mostraremos como a literatura acompanhou a evolução econômica que o país atravessou, saindo de uma monarquia calcada na escravidão e entrando em uma democracia globalizadora. Em contos da década de 1910, temos estruturas socioeconômicas complexas, e que retratam os problemas e soluções vividos pela população rural. Muitos estudos da literatura regionalista da Belle Époque buscam diminui-la ou justificá-la através de uma suposta "universalidade". Entre os nossos objetivos está o de compreender melhor obras que, sendo frutos de seu tempo, nada perdem de importância - ao contrário, iluminam esse tempo. O que encontramos através de análises de obras de Alberto Rangel, Coelho Neto, Monteiro Lobato, Simões Lopes Neto e Hugo de Carvalho Ramos, entre outros, e de estudos históricos e sociais escritos por Antonio Candido, Caio Prado Jr., Jorge Caldeira e outros, é que o regionalismo do fim do século XIX e início do século XX estava cônscio dos problemas da sociedade brasileira rural da época, sendo capaz de representá-los com originalidade e talento, sem deixar de, com isso, agradar ao público leitor. Palavras-chaves: Regionalismo brasileiro; Belle Époque; materialismo histórico; narradores; discurso das personagens. Abstract: One of the resources used in regionalism, a cross-cultural literature, to unite the rural world with the urban world, of which its authors and a large part of its readers belong to, is the discourse of the characters. It has three main forms: the cultured norm (narrator and characters speaking according to current grammatical norms); orthographic transcription (the characters' speeches are transcribed by the way the words are pronounced, with accents, colloquialisms, and so forth); and the "castiço" style (narrator and characters speaking the same way, but with a particular construction that unites colloquialism and the peculiarities of orality with the grammatical norms). Studying the end of the Brazilian Empire and the Belle Époque, we found three main social characteristics that, alternating in relevance, never ceased to exist as components of our complex social base: a desire for an unified view of all social strata; an insurmountable distance between urban evolution and rural backwardness; a productive, independent hinterland. Our thesis is that each one of the three types of speeches was a tool created to account for one of these positions of the urban world in relation to the rural world, having emerged, each, when a certain view became the relevant one. We will understand this through analysis of short stories from the end of the 19th century and the beginning of the 20th century, with a historical and also a philosophical basis - the historical materialism of Karl Marx. Then, focusing on types common to regionalism (the aggregates, the criminals and the outcasts), we will show how literature has followed the economic evolution of the country, from a monarchy based on slavery to a globalizing democracy. In short stories written in the 1910s, we have complex socioeconomic structures, which portray the problems and solutions faced by the rural population. Many studies of Belle Époque regionalist literature seek to diminish or justify it through an alleged "universality". Among our goals is to better understand works that, being reflexes of their time, nothing lose importance - on the contrary, they illuminate this time. What we find through analyzes of works by Alberto Rangel, Coelho Neto, Monteiro Lobato, Simões Lopes Neto and Hugo de Carvalho Ramos, among others, and through historical and social studies written by Antonio Candido, Caio Prado Jr ., Jorge Caldeira and others, is that the regionalism of the end of the 19th century and the beginning of the 20th century was aware of the problems of rural Brazilian society at the time, being able to represent them with originality and talent, without failing, with that, please the reading public. Keywords: Brazilian regionalism; Belle Époque; historical materialism; narrators; dialogues.
Collections
- Dissertações [340]