Subsídios à geração de proposta de desenvolvimento para a região de Joselândia (Barão de Melgaço/MT) : estudo etnobotânico
Resumo
Resumo : O Cerrado é o segundo maior bioma do país e possui, ao contrário do que muitos acreditam, biodiversidade riquíssima. Apesar de abrigar cerca de 10.000 espécies de vegetais vasculares, que apresentam valiosos potenciais madeireiros e não madeireiros, este ecossistema vem sendo intensamente devastado durante os últimos 30 anos, principalmente pelo avanço de monoculturas agrícolas e ocupação humana. Considerando-se que estes potenciais são pouco aproveitados, que as plantas ainda carecem de estudos e que apenas pequena parte do bioma encontra-se relativamente íntegra, toma-se imprescindível o urgente resgate de informações que populações tradicionais construíram ao longo da sua existência com relação aos vegetais da região. Afinal, conhecendo suas espécies e respectivos benefícios, é possível compatibilizar a utilização consciente das mesmas com a garantia de conservação do ecossistema. Assim, visando evitar a perda deste conhecimento e contribuir para a formação de uma base consistente para a proposição de alternativas de renda para a comunidade pantaneira, realizou-se levantamento etnobotânico no município de Barão de Melgaço (MT), região ainda pouco estudada neste contexto. Para tanto, executou-se pesquisa exploratório-descritiva baseada em levantamento bibliográfico e na aplicação de questionários a 24 famílias de três comunidades relativamente isoladas (São Pedro de Joselândia, Retiro do Brandão e Pimenteira). Além de informações gerais sobre a população amostrada e sobre o uso de plantas fontes de produtos vegetais madeireiros (pvm) e não-madeireiros (pvnm), buscou-se averiguar como este conhecimento foi adquirido e quais as fontes de obtenção das espécies utilizadas. Verificou-se que a maior parte do conhecimento obtido é resultado de informações passadas pelos ancestrais e que ele vem sendo perdido através das gerações. Dentro de um total aproximado de 863 referências etnobotânicas, foram registradas 219 etnoespécies nativas e exóticas ao local. Os vegetais identificados encontram-se distribuídos em 70 famílias botânicas, dentre as quais as mais representativas são Fabaceae, com 12 espécies citadas e Asteraceae e Euphorbiaceae, ambas com 11 espécies. As plantas foram agrupadas em 12 etnocategorias, sendo que o uso medicinal foi o mais expressivo (relatado em 63,5% das espécies mencionadas), seguido pelas categorias alimentação (29,7%) e madeira (20,5%). As espécies mais importantes, por terem sido mencionadas pelo maior número de entrevistados, terem recebido a maior quantidade de citações e apresentarem mais utilidades, foram: Hymenaea courbaril L. (jatobámirim), Myracrodruon urundeuva Fr. Aliem, (aroeira), Citrus sinensis (L.) Osbeck (laranjeira) e Vochysia divergem Pohl. (cambará). Contudo, considerando-se que as plantas nativas são extraídas de maneira exploratória da natureza, toma-se necessária a realização de estudos mais aprofundados das espécies, a fim de viabilizar seu uso sustentável e até comercial devido à possível ampliação destes usos.
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