O brincar no cotidiano escolar : entre regras e ressignificações de tempos e espaços livres

Abstract

Resumo: Esta pesquisa propõe investigar como e quando as crianças do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Curitiba brincam. O objetivo geral foi analisar as formas do brincar no cotidiano escolar. Os objetivos específicos foram: identificar as formas do brincar de estudantes de 6 a 9 anos em tempos e espaços livres na escola; analisar as narrativas dos estudantes sobre as práticas lúdicas e os espaços destinados a eles na escola; e propor oficinas do brincar para possibilitar a descoberta de novas formas de apropriação dos tempos e espaços livres escolares. Foram utilizadas três estratégias metodológicas distintas: a observação, que nos permitiu refletir sobre os elementos que poderíamos empregar como ponto de partida para orientar nossas interações com os estudantes; as rodas de conversas, nas quais adotamos uma abordagem de escuta atenta, buscando aprender com os alunos sobre suas perspectivas, pensamentos, práticas lúdicas e o papel dos espaços escolares em suas vidas; e as oficinas do brincar, que foram implementadas com o propósito de possibilitar a descoberta de novas formas de utilização dos tempos e espaços livres na escola. Trata-se de uma pesquisa com crianças que adotou uma abordagem qualitativa, com base na pesquisa-ação. Para produção dos dados, foram empregados instrumentos e procedimentos metodológicos que incluíram análise de documentos, observações, realização de rodas de conversa e condução de oficinas do brincar. Para compreender o dia a dia escolar, baseamos nossa análise em Michel de Certeau, que se fundamenta nos conceitos: cotidiano, estratégias e táticas. Utilizamos as seguintes categorias para orientar nossa análise: a) limitação dos espaços para o lúdico no contexto de uma escola, b) resistência das crianças, apesar de tudo as crianças brincam, c) questão de gênero e as relações de poder nas atividades e brincadeiras observadas em um ambiente escolar, d) o protagonismo das crianças, quando elas não participam. Portanto, conclui-se que, diante das restrições estruturais e dos diversos obstáculos encontrados na apropriação do tempo e espaço escolar, as crianças demonstram notável resistência, desempenhando um papel fundamental na construção de uma cultura escolar que transcende as concepções tradicionalmente estabelecidas pelo mundo adulto. O percurso metodológico representou uma jornada de descoberta e diálogo, permitindo que os estudantes se tornassem coautores da narrativa e protagonistas de suas próprias histórias, com destaque para a escuta atenta e a valorização de suas vozes. As percepções das crianças enfatizaram a importância do espaço físico e da autonomia no ambiente escolar.

Abstract: This research aims to investigate how and when elementary school children in the Municipal Network of Curitiba play. The overall objective was to analyze the forms of play in everyday school life. The specific objectives were to: identify the ways in which students aged 6 to 9 engage in play during free times and spaces at school; analyze the students' narratives about playful practices and the spaces designated for them at school; and propose play workshops to enable the discovery of new ways of appropriating free school times and spaces. Three distinct methodological strategies were employed: observation, which allowed us to reflect on the elements we could use as a starting point to guide our interactions with students; group discussions, in which we adopted an approach of attentive listening, seeking to learn from the students about their perspectives, thoughts, playful practices, and the role of school spaces in their lives; and play workshops, which were implemented with the purpose of facilitating the discovery of new ways to use free times and spaces at school. This research with children adopted a qualitative approach based on action research. To generate data, instruments and methodological procedures were employed, including document analysis, observations, group discussions, and play workshops. To understand daily school life, our analysis was based on Michel de Certeau, who relies on the concepts of everyday life, strategies, and tactics. We used the following categories to guide our analysis: a) limitation of spaces for play within the school context, b) children's resistance – despite everything, children play, c) gender issues and power relations in the activities and games observed in a school environment, d) children's agency when they do not participate. Therefore, it is concluded that, in the face of structural constraints and various obstacles encountered in appropriating school time and space, children demonstrate remarkable resilience, playing a fundamental role in constructing a school culture that transcends traditionally established adult worldviews. The methodological journey represented a process of discovery and dialogue, allowing students to become co-authors of the narrative and protagonists of their own stories, with a focus on attentive listening and the appreciation of their voices. The children's insights emphasized the importance of physical space and autonomy in the school environment.