Desigualdade perpetuada : os quadros de sentido entre a representação simbólica e o reconhecimento de atletas com deficiencia no Esporte Espetacular
Resumo
Resumo: A mídia é uma arena essencial para o debate social, porque, inserida no campo político, representa um espaço de visibilidade buscado por grupos e minorias que buscam o descortinar público das próprias demandas. No entanto, ao mesmo tempo em se realizam na esfera pública, os discursos midiáticos também constroem quadros de sentido que agem como impulsionador ou entrave nas lutas por justiça. Esta tese se propõe a compreender a tensão entre a representação simbólica de atletas paralímpicos pelo Esporte Espetacular (EE) e a forma como estes quadros de sentido se relacionam com as demandas por reconhecimento, redistribuição e representação política desses atores (FRASER, 2009). Nosso referencial teórico passa pelo debate sobre igualdade e diferença (YOUNG, 1990), pelas reflexões sobre justiça (FRASER, 2003; FRASER, 2009; HONNETH, 1999; HONNETH, 2003a) e pelas discussões sobre o papel da mídia e as representações que derivam de seus discursos (MAIA, 2018). A questão que guia esta pesquisa é: de que maneira as ferramentas de representação simbólica e os quadros de sentido construídos pelo Esporte Espetacular sobre os atletas com deficiência se relacionam com a busca por reconhecimento, redistribuição e representação política destes atores? Para chegar a possíveis respostas, a tese se divide em duas etapas: na primeira delas, foram analisadas todas as edições do Esporte Espetacular entre 2017 e 2021. Após a observação das 240 edições exibidas em cinco anos de recorte, foram encontradas 98 reportagens que tinham como temática o atleta com deficiência. Uma amostra de 30 reportagens foi analisada a partir de uma adaptação ao método de enquadramento multimodal (WOSNIAK et al., 2014). A metodologia, chamada de enquadramento multimodal audiovisual, foi especialmente desenvolvida para operacionalizar a análise de imagens em movimento, além das dimensões noticiosa e narrativa das reportagens. Na segunda etapa, a pesquisa confronta os achados com entrevistas em profundidade feita com os atletas paralímpicos Verônica Hipólito, Tiago Silva, Maria Carolina Santiago, com o ex-nadador paralímpico Daniel Dias e com o ex-editor-chefe do Esporte Espetacular Afonso Garschagen. A análise de enquadramento multimodal audiovisual aponta para um paradoxo na cobertura do EE: enquanto as dimensões redistributiva e de representação política são invisibilizadas pelo programa, o reconhecimento se realiza a partir de quadros de sentido narrativo que valorizam as histórias individuais e a deficiência do atleta, em uma representação simbólica de fragilidade e dependência. No caminho contrário, as imagens usadas nas mesmas reportagens oferecem reconhecimento pelas capacidades esportivas desses atores. Essa combinação pode ser considerada, ao mesmo tempo, um impulso na busca por paridade de participação para os atletas, à medida em que eles são valorizados por suas capacidades individuais, mas também pode representar um falso reconhecimento (FRASER, 2009). Também observamos que as ferramentas narrativas do EE elegem representantes que passam a ter, na mesma medida, enaltecidas suas conquistas esportivas e invisibilizadas sua deficiência. As entrevistas mostram que os atletas paralímpicos buscam paridade de participação a partir do reconhecimento de seu percurso esportivo. As falas caminham no sentido da confiança no jornalismo esportivo como meio de difusão de demandas por justiça, desde que haja ajustes na narrativa empregada. Abstract: The media is an essential arena to social debate, for when it is inserted into the political field, represents an open spot of visibility seeked by groups and minorities that pursue public unveiling of their own demands. However, at the same time they take place in the public sector, the media speeches also build sense frames that perform as a booster or a barrier in the struggle for justice. This thesis proposes to comprehend the tension between the symbolic representation of paralympic athletes from Esporte Espetacular (EE) and the way these sense frames relate to the demands for recognition, redistribution and political representation of these actors (FRASER, 2009). Our theoretical references embrace the debate of equality and difference (YOUNG, 1990), the reflections about justice (FRASER, 2003; FRASER, 2009; HONNETH, 1999; HONNETH, 2003a) and the discussions about the role of media and the representations that derive from its speeches (MAIA, 2018). The issue that guides this research is: which manner do the tools for symbolic representation and the sense frames made by Esporte Espetacular about the disabled athletes relate with the pursuit of recognition, redistribution and political representation of these actors? To achieve possible answers, the thesis is divided into two stages: at first, every Esporte Espetacular edition was analyzed between 2017 and 2021. After observing all 240 editions broadcasted during the five-year time, 98 reports with themes related to disabled athletes were found. A sample of 30 reports was analyzed by using an adaptation of the multimodal framing method (WOSNIAK et al., 2014). The methodology, called audiovisual multimodal framing, was specially developed to operationalize the movement and image analysis, apart from the news and narrative dimensions of the reports. In the second stage, the research confronts the findings with deep interviews held with paralympic athletes Verônica Hipólito, Tiago Silva, Maria Carolina Santiago, the former paralympic swimmer Daniel Dias and the former Esporte Espetacular chief editor Afonso Garschagen. The audiovisual multimodal framing analysis points to a paradox in the EE coverage: whilst the redistributive and political representation dimensions are made invisible by the show, the recognition takes place through narrative sense frames which enrich individual stories and the athlete's disability, in a symbolic representation of weakness and dependence. On the other hand, the images used in the same reports bring recognition for the sporting skills of these actors. This combination may be considered, at the same time, a boost in the pursuit of athlete participation parity, whereas they are valued for their individual skills, but also for representing a false recognition (FRASER, 2009). We also observed that the EE narrative tools appoint agents that start to have their sports achievements praised and their disabilities made invisible at the same level. The interviews show that the paralympic athletes seek participation parity as recognition of their sporting journey. The speech marches in the sense of trust in the sportive journalism as a mean of diffusion of demands for justice, as long as there are adjustments in the applied narrative.
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