Vozes femininas (in)visibilizadas : da (des)assistência estatal às mulheres no âmbito do abortamento sob uma perspectiva decolonial
Resumo
Resumo: A presente pesquisa possui como escopo primordial a análise das construções jurídicas realizadas acerca do controle dos corpos femininos, em especial no que se refere à temática do abortamento. Para isso, foi utilizado, inicialmente, do marco teórico com as lentes do feminismo decolonial, tendo em vista a esfera brasileira estar inserida em uma seara colonizada, bem como não objetivar a reprodução de uma figura única da mulher, perpassando pela adoção (ou não) da perspectiva de gênero na esfera judicial. Ademais, para se analisar empiricamente os discursos das(os) agentes processuais, foi promovido exame de casos selecionados no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), de forma a se verificar não apenas as suas afirmações, mas também suas ausências, o que legitimaria a produção de discursos invisibilizadores no que concerne ao aborto e às verdadeiras vítimas: as mulheres, em especial as não-brancas. Outrossim, foi analisada a hipótese de que não apenas a legislação, mas também os discursos judiciais como um todo legitimam o controle dos corpos femininos, bem como suas razões e o papel que esse domínio representa, de modo a se prestar, também, uma verdadeira desassistência por parte do Estado, no tocante ao abortamento. Assim, foram analisados dados acerca das mulheres que praticam o abortamento, bem como das(os) julgadoras(es) e demais agentes processuais, de modo a se verificar como as mulheres são (in)visibilizadas, bem como o corpo da mulher, dentro da normatividade patriarcal, é retratado, demonstrando a inserção desta temática junto à colonialidade do poder e do sistema colonial de gênero, contemporaneamente, reforçando um conceito universal de mulher e de família heteronormativa. Por fim, foi realizada a análise criteriosa e subjetiva dos casos, bem assim o que neles foi visibilizado ou não, através de três vertentes principais: a) quem são as(os) julgadoras(es); b) quem são as mulheres que efetuam o abortamento, ou seja, seu perfil socioeconômico e escolar, bem como os motivos para a sua realização; e c) como as mulheres são (in)visibilizadas e retratadas nesses casos. Como resultado, concluiu-se que os corpos das mulheres ainda são tematizados pelas leis e decisões judiciais sob uma perspectiva que se apresenta como neutra, mas que reproduz esse controle social dos corpos e da autonomia reprodutiva das mulheres. Além disso, observa-se que o controle dos corpos promovido pelo Estado permanece nos discursos legislativos e judiciais que limitam e criminalizam a autonomia reprodutiva das mulheres, discriminando-as, em especial as não-brancas e com menor poder aquisitivo, de modo com que estas fiquem invisibilizadas ao se inserirem, majoritariamente, no sistema criminal, por meio da prática do abortamento. Abstract: This research has as its primary scope the analysis of the legal constructions made about the control of female bodies, especially regarding the issue of abortion. For this, it was used, initially, the theoretical framework with the lenses of decolonial feminism, in view of the Brazilian sphere being inserted in a colonized field, as well as not aiming at the reproduction of a single figure of the woman, going through the adoption (or not) of the gender perspective in the judicial sphere. Furthermore, to empirically analyze the discourses of the procedural agents, the examination of selected cases from the Court of Justice of the State of Paraná (TJPR) was promoted, in order to verify not only their affirmations, but also their absences, which would legitimize the production of invisibilizing discourses regarding abortion and the true victims: women, especially the non-white ones. Furthermore, it was analyzed the hypothesis that not only the legislation, but also the judicial discourses as a whole legitimize the control of the female bodies, as well as its reasons and the role that this domain represents, in a way that also provides a true non-assistance on the part of the State, regarding abortion. Thus, data about the women who perform the abortion, as well as the judges and other procedural agents were analyzed, in order to verify how women are (in)visibilized, as well as how the woman's body, within the patriarchal normativity, is portrayed, demonstrating the insertion of this theme with the coloniality of power and the colonial gender system, contemporarily, reinforcing a universal concept of women and heteronormative family. Finally, a careful and subjective analysis of the cases was carried out, as well as what was or was not made visible in them, through three main aspects: a) who the judges are; b) who the women who perform the abortion are, that is, their socioeconomic and schooling profile, as well as the reasons for performing it; and c) how the women are (in)made visible and portrayed in these cases. As a result, it was concluded that women's bodies are still themed by laws and judicial decisions under a perspective that presents itself as neutral, but that reproduces this social control of women's bodies and reproductive autonomy. Moreover, it is observed that the control of the bodies promoted by the State remains in the legislative and judicial discourses that limit and criminalize the reproductive autonomy of women, discriminating them, especially the non-white and with lower purchasing power, so that they become invisible when they enter the criminal system, mostly through the practice of abortion. Résumé: Cette recherche a pour objectif principal d'analyser les constructions juridiques relatives au contrôle du corps des femmes, notamment en ce qui concerne la question de l'avortement. Pour cela, on a utilisé, initialement, le cadre théorique avec les lentilles du féminisme décolonial, vu que la sphère brésilienne est insérée dans un champ colonisé, ainsi que de ne pas viser la reproduction d'une figure unique de la femme, en passant par l'adoption (ou non) de la perspective de genre dans la sphère judiciaire. En outre, afin d'analyser empiriquement les discours des agents procéduraux, l'examen de cas sélectionnés dans la Cour de justice de l'État du Paraná (TJPR) a été promu, afin de vérifier non seulement leurs affirmations, mais aussi leurs absences, qui légitimeraient la production de discours invisibilisants concernant l'avortement et les véritables victimes: les femmes, en particulier les femmes non blanches. En outre, on a analysé l'hypothèse selon laquelle non seulement la législation, mais aussi les discours judiciaires dans leur ensemble légitiment le contrôle du corps des femmes, ainsi que leurs raisons et le rôle que ce domaine représente, afin de fournir, également, une véritable non-assistance de l'État, concernant l'avortement. De cette façon, les données concernant les femmes qui pratiquent l'avortement, ainsi que les juges et autres agents de procédure ont été analysées, afin de vérifier comment les femmes sont (in)rendues visibles, ainsi que la façon dont le corps de la femme, dans le cadre de la normativité patriarcale, est dépeint, démontrant l'insertion de ce thème avec la colonialité du pouvoir et le système de genre colonial, de façon contemporaine, renforçant un concept universel de féminité et de famille hétéronormative. Enfin, une analyse minutieuse et subjective des cas a été réalisée, ainsi que de ce qui était ou n'était pas rendu visible dans ces cas, à travers trois aspects principaux: a) qui sont les juges; b) qui sont les femmes qui pratiquent l'avortement, c'est-à-dire leur profil socioéconomique et scolaire, ainsi que les raisons de le pratiquer; et c) comment les femmes sont (in)rendues visibles et représentées dans ces cas. Il en ressort que le corps des femmes est toujours thématisé par des lois et des décisions judiciaires dans une perspective qui se présente comme neutre, mais qui reproduit ce contrôle social du corps des femmes et de leur autonomie reproductive. En outre, on observe que le contrôle des corps promu par l'État demeure dans les discours législatifs et judiciaires qui limitent et criminalisent l'autonomie reproductive des femmes, en discriminant les femmes, surtout celles qui ne sont pas blanches et celles qui ont un pouvoir d'achat inférieur, de sorte qu'elles sont invisibilisées en étant insérées, le plus souvent dans le système pénal, en vue de la pratique de l'avortement.
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