Precariedade e vulnerabilidade em A céu aberto de João Gilberto Noll
Resumo
Resumo : Este trabalho trata da questão do tempo na obra de João Gilberto Noll, mais especificamente em A céu aberto. A partir da leitura do filósofo francês Paul Ricoeur, que discute exaustivamente tempo e narrativa, foi possível a adoção de um instrumental teórico que se coaduna com os textos estudados. Vários aspectos são abordados, sempre tendo como espinha dorsal o tempo. Ao se pensar no item narrador, levou-se em consideração o fato de que todos os textos pesquisados - A fúria do corpo, Bandoleiros, Rastros do verão, Hotel Atlântico, O quieto animal da esquina, Harmada e A céu aberto - são escritos em primeira pessoa. Visto se tratarem de relatos genericamente comuns e de pessoas comuns e por abrangerem largos períodos de vida, foi imediata a relação com a autobiografia ficcional. Ainda sobre o narrador, é notória a fusão entre presente e passado, isto é, o narrador é seu próprio personagem no momento exato em que relata suas ações. Três imagens - a da dissolução, a da agonia e a do banimento - remetem objetivamente ao caos e à precariedade constantes à que se sujeitam os personagens de Noli. A ausência de nomes é traço marcante e aponta não só para uma fragmentação do sujeito e para o fim da ilusão de totalidade, mas também para a ausência de passado, de referencial. A guerra, em A céu aberto, frisa a fragilidade existencial de seres que, aliás, têm caráter bastante discutível, construído ao longo de um tempo repleto de tribulações. O presente é muito forte na obra de João Gilberto Noll e é relevante o esforço que seus personagens fazem em negar a memória, o passado. O tempo futuro também é abafado, os seres criados não têm grandes expectativas em relação a suas vidas, tudo é muito rápido e imediato. Pouca coisa aponta para o futuro, uma delas é a diferença entre gerações. É bastante comum que homens maduros se relacionem com jovens e essa troca parece apontar para algo positivo. Porém, o ser-para-amorte heideggeriano é muito presente - tanto para adultos como para garotos -, ou seja, a morte pode ser a qualquer momento, o que aproxima o futuro do presente, evidenciando mais uma vez a precariedade na qual se vive.
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- Teses & Dissertações [9330]