FHC por Cony : uma construção discursiva em O presidente que sabia javanês
Resumo
Resumo: Esta dissertação consiste em uma análise das crônicas de O presidente que sabia javanês, de Carlos Heitor Cony, publicadas entre 1994 e 2000 na Folha de S. Paulo, e cujo enfoque primordial é o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. A pesquisa tem como embasamento teórico os conceitos de Mikhail Bakhtin e a Análise do Discurso Francesa, principalmente no que se refere à heterogeneidade, intertextualidade e dialogismo; a noção de linguagem como processo reflexivo e sócio-interativo, tendo o dialogismo como sua característica essencial e princípio constitutivo de todo discurso. Conduzido por estes conceitos, o objetivo deste trabalho é investigar: i) a multiplicidade de vozes sociais que se encontram nas crônicas e que efeitos de sentido podem ser resgatados pelos seus interlocutores através do entrecruzamento das vozes aí instauradas; ii) de que forma as diferentes vozes sociais são enquadradas nas crônicas; iii) como a voz do outro (discurso de Fernando Henrique Cardoso) é articulado pelo autor; iv) como o autor constrói, pelo discurso, uma imagem social de seu objeto. Fernando Henrique Cardoso, seu governo e o "contexto extraverbal" da política brasileira durante o período 1994-2000 constituem objeto de depreciação de Carlos Heitor Cony que, para efetivar essa desvalorização do discurso/imagem de FHC, dialoga com uma grande variedade de discursos sociais. A fala do autor não reflete uma realidade pré-existente, mas ele constrói seu objeto através do ponto de vista da carnavalização, utilizando paródia, ironia e humor. De um lado, há o discurso que é dito, criando uma imagem social de Fernando Henrique Cardoso como um mau, hipócrita e corrupto presidente; em contrapartida, outro objeto do discurso é constituído pelo não-dito, construindo, assim, uma auto-imagem do próprio autor, como uma pessoa boa, honesta e respeitável. Portanto, as crônicas de O presidente que sabia javanês são constitutivamente diaiógicas, em constante embate com o já-dito e apresentam, no interior do mesmo discurso, dois objetos que são instituídos por meio dos múltiplos discursos sociais. Enquanto um objeto é absolutamente desqualificado, o outro é exaltado. Abstract: In this dissertation, it is investigated the chronicles that composed the literary and journalistic work O presidente que sabia javanês written by Carlos Heitor Cony. These chronicles were published on Folha de São Paulo newspaper from 1994 to 2000. Fernando Henrique Cardoso, the President of Brazil, is the main object focused in the chronicles. The investigation is based upon Mikhail Bakhtin's theoretical background and French Discourse Analyses, mainly, the concepts of heterogeneity, intertextuality, dialogism, meaning achieved by social struggle among discourses and language as dialogue and interaction and the discourse as rooted in social experience. Guided by these concepts the analyses aimed: i) establish the multiplicity of social utterances that constitute each chronicle, aiming to search the possible meanings through that multiplicity; ii) search how the multiple social utterances are located and assimilated in the chronicles; iii) investigate how the other's utterance (Fernando Henrique Cardoso's speech) is articulated by the author; iv) how the author creates, through discourse, a social image of his main object. Fernando Henrique Cardoso, his presidential term and the "extraverbal context" of Brazilian Politics during that period (1994-2000) constitute Carlos Heitor Cony's object of depreciation. They are delivered through a great variety of social discourses, aiming to depreciate and devaluate them. The authors language does not reflect a pre-existing reality but generates his object through a carnivalesque point of view, using parody, irony and humour. On one hand there is what is said, creating a social image of Fernando Henrique Cardoso as a bad, hypocrite, corrupt president and, on the other hand, there is another object of the discourse that constitutes the unsaid discourse, creating a self-image of the author as a good, honest and respected person. Thus, the chronicles of the book O homem que sabia javanês are dialogic because they present inside the same utterances two objects that fight through the multiple social discourses to be established. One object is absolutely disqualified and the other one is exalted.
Collections
- Teses & Dissertações [9328]